A vida, as alegrias e as tristezas do povo coreano, refletidas nos clássicos do cinema coreano
Saebae bok mani badeuseyo! Feliz Ano Novo! Depois de um ano difícil, faço votos para que 2021 seja repleto de felicidade para todos nós.
Há uma tradição na Ásia Oriental de prever o futuro para o novo ano, de acordo com as características do animal desse ano, de entre os signos do Zodíaco Chinês. O animal de 2021 é o Boi, o segundo dos 12 signos, e há uma lenda interessante que lhe está associada.
A ordem dos signos foi definida de acordo com a ordem de chegada numa corrida. O Boi correu sem parar e sem batota até à linha de chegada. Quando faltava pouco para a vitória, o Rato, que lhe tinha pedido boleia, saltou, passando-lhe à frente. Assim, o Boi perdeu o primeiro lugar. O Boi está associado à determinação e à honestidade. Há um provérbio coreano que diz: "Podem ser lentos os passos, mas são passadas de boi."
Em 2021, o ano do Boi, espero que ultrapassemos o novo coronavírus com determinação e paciência e que voltemos ao nosso dia-a-dia como era antes.
Neste sentido, a nossa embaixada quer começar o ano 2021 de forma especial. Preparámos, em colaboração com a Cinemateca Portuguesa, um ciclo chamado Clássicos do Cinema Coreano, que decorre entre 7 e 23 de janeiro, com a mostra de 11 filmes clássicos.
Este festival terá um duplo papel. Por um lado, é o primeiro evento a assinalar, neste ano de 2021, o 60.º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre Portugal e a Coreia. Por outro, assinalando também os 100 anos do cinema coreano, queremos dar a conhecer aos portugueses a origem do mesmo.
De entre os outros filmes apresentados, destacar-se-á aquele que inaugura o próprio ciclo, A Criada, repetidamente apontado como um dos grandes filmes de sempre na história do cinema coreano. O filme teve um remake em 2010 e recebeu o prémio de Melhor Atriz no Festival de Cannes.
Sem demérito para os outros, ressalto ainda O Procurador e a Professora, um filme mudo produzido em 1948, o mais antigo do ciclo, que permite uma experiência invulgar, a de ver o filme com uma narração por um contador, e também Sopyonje, o mais recente (1993) de todos, sendo o primeiro filme coreano a alcançar o recorde de um milhão de espectadores e referenciado como o filme que chamou a atenção de cineastas de todo o mundo para o cinema coreano.
Se algo une todos estes filmes - de estilos, épocas e contextos de produção tão distintos - é uma emoção comum e profunda que os coreanos reconhecerão como imbuindo os seus espíritos. Tal como os portugueses definem um traço seu a partir do sentimento da saudade, que se diz ser intraduzível, também os coreanos têm uma palavra que define uma emoção muito especial e própria. Essa palavra é han, descrita como um estado melancólico da alma, uma tristeza profunda, mas que, ainda assim, traz algum consolo em saber-se intacto no fundo. O pathos, o melodrama, as emoções ao rubro, seja a alegria de viver intensamente ou o mergulho na perda, insuflam estas produções.
Convidamos todos os portugueses a assistir a esta oportunidade única, não apenas para (re)descobrir as pérolas ocultas do cinema mundial, como para aprofundar o seu conhecimento de uma cultura muito própria, mas que seguramente sentirão como familiar.
Embaixador da Coreia do Sul em Portugal