Foi só o tempo de fazer a mala e ir ter com Myron Fedoriv. Se fosse sozinho, este motorista de 55 anos do Grupo BEL [que pertence a um acionista do DN] já tinha zarpado de Lisboa. A viagem é longa e a ansiedade não tem escala. Quase não prega olho há três noites. De Lviv, terra natal, espera que a filha e os dois netos embarquem num autocarro a caminho do ocidente. Em princípio, até Pilsen, a cidade checa que deu ao mundo o tipo de cerveja mais famoso. Mas não se sabe, nunca se sabe quando há uma guerra e os seus desenvolvimentos. E o afluxo dos deslocados pode levar-nos a outras paragens. Polónia, Hungria, Bulgária, quem sabe. A missão está definida, o caminho está em aberto. Uma aventura por necessidade, ao invés daquela iniciada por Vladimir Putin..A viver em Portugal há 21 anos, Myron explica enquanto nos conduz pela autoestrada que, de autocarro, a passagem de Miroslava e dos pequenos pela fronteira oeste será mais expedita..Para já é seguir as instruções do GPS e atravessar de automóvel 2500 quilómetros de um continente que, apesar dos valores preconizados por Robert Schuman, comuns na maioria dos países graças à União Europeia, volta a ser palco de uma guerra. Valores e condições de vida que trouxeram Myron para Portugal, trazido então pelas máfias, como era corrente. Mais tarde recebeu a mulher, Lyubov, e a filha. Esta voltou para a Ucrânia, onde estudou e até agora era farmacêutica. Mas a paz, condição tão preciosa quanto precária, chama-a. Ainda que tenha de deixar o marido - impedido de sair do país devido à lei marcial - para trás..Jornalista.* O DN a caminho da Europa de Leste a acompanharo esforço de um ucraniano que vive em Portugal para ir buscar a família.