A verdade a nu

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Nos últimos anos, tem sido evidente que o poder político e o judicial, a comunicação social e as elites económicas detestam os militares e não os respeitam. Não perdem uma oportunidade para os humilhar, maltratar e impedir de terem voz neste país.

E isto sucede por duas razões. Primeiro porque ainda têm medo dos militares e do poder que estes têm nas suas mãos. Depois, porque não compreendem essa gente estranha que se rege por princípios e valores em desuso, que fala muito em servir a pátria e os portugueses, que passa meses em terras e águas hostis, longe da família, a comer ração de combate e a dormir num chão de pedras, capaz de carregar aos ombros um inimigo ferido para que ele sobreviva. Tudo em nome dos superiores interesses de Portugal, sem esperar qualquer compensação especial. Basta-lhes um papel com um louvor inscrito e, para alguns, uma condecoração no peito.

Os militares têm vindo a perder direitos e a ver agravados os deveres, em contraciclo com a restante sociedade e, em particular, com o funcionalismo público. A DGAEP difundiu, em 2017, uma tabela que ordena a remuneração mensal média de cada uma das 31 carreiras existentes na função pública. As Forças Armadas estão classificadas na 25.ª posição quando, há 30 anos, estavam no terço superior!

E não deixa de ser inexplicável e incompreensível que, na cauda dessa tabela, se encontrem os militares das FA e da GNR, os polícias, os bombeiros e os enfermeiros. Mas que Estado é este que paga tão mal aos que dão a vida na sua defesa e na defesa da vida dos seus concidadãos? E que povo é este que deixa que os seus filhos mais puros, aqueles que ao longo de séculos construíram Portugal, tenham um estatuto social tão abjeto?

Ao invés, alguns elementos das carreiras mais prestigiadas da função pública tomam decisões fortemente lesivas da formação, da honra e da vida dos cidadãos, e raros veem a sua carreira ser beliscada. E não é despiciendo perguntar quantos dos que integram essas profissões já perderam a vida no exercício das suas funções ou, pelo menos, quantos ficaram levemente feridos.

Sintomático, o facto de muita comunicação social, apesar de atempadamente esclarecida, persistir em apelidar de polícia o tenente-coronel Arnaud Beltrame, não estando em causa o orgulho e confiança que temos na PSP e nos seus agentes.

São os militares seres impolutos? Não! Contudo, os que degeneram são em número insignificante e não põem em causa a honorabilidade da instituição. Mesmo assim, a estes, os poderes instituídos, de uma forma arrogante e prepotente, aproveitam o ensejo para os enxovalhar de uma forma ignóbil e sem consideração pela sua condição humana. No caso da alegada corrupção nas messes da Força Aérea, dos 46 arguidos civis não ficou um único preso. Dos 40 arguidos militares, após detenções ocorridas em condições vexatórias, 18 ficaram presos: 11 no presídio militar e sete no domicílio e só foram libertados sete meses depois. Estão em causa, parece, 2,5 milhões. Enquanto isto, cidadãos arguidos em processos de centenas de milhões continuam a usufruir do belo clima português. Porquê esta diferença de atitude?

Atualmente, os militares já nem ambicionam reclamar direitos estatuídos. Apenas pretendem, enquanto a Constituição determinar a existência de Forças Armadas, que sejam tidas em atenção as especificidades da sua profissão e que lhes seja aplicado um tratamento, pelo menos, semelhante ao das outras profissões da função pública. Ou só aquelas que têm sindicatos conseguem fazer valer os seus direitos?

Tenente-general reformado

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