A única, múltipla, criativa e clássica batata
Vão achar que fantasio confessando-lhes ter sido por impulso que me decidi a falar-lhes hoje da batata. É que gosto de partilhar convosco os meus pequenos grandes prazeres gastronómicos e acabo de comer uma batata cozida que me deixou em êxtase. Dá pelo nome de Mona Lisa e trazia uma etiqueta com a indicação do método de cozedura para si mais indicado, peso, nome do embalador e como vinha dentro de um saquinho de rede, bastou-me protegê-la da luz.
Dá-me verdadeiramente prazer ver que progredimos, mesmo que esse aparentemente pequeno passo, seja apenas o de saber o nome dos alimentos que consumo.
Confesso que o meu pensamento foi também para o Sr. Parmentier (1737-1813) embora saiba que antes dos seus esforços para levar os franceses a consumir o magnífico tubérculo, já nós ibéricos sabíamos o que era uma boa batata e lhe reconhecíamos a enorme importância social.
A história da batata é conhecida, e dela se conhecem várias versões. Todas apontam para a grande dificuldade que os franceses tiveram em aceitá-la, e reconhecem o que Parmentier fez pela sua divulgação em França, onde hoje é considerada o legume nacional.
A batata pertence a uma família botânica com má reputação a das solanáceas. É portanto prima da beringela e do tomate e, como eles, atravessou o Atlântico para cá se instalar. Destes parentes só temos a dizer bem, mas já da sua prima beladona? Aqui para nós, convém saber, que exposta à luz, a batata torna-se verde, indicação de que contém solanina, substância tóxica, que caracteriza a sua família.
Portugueses e espanhóis começaram a comer batatas por o terem visto fazer aos andinos; o Sr Parmentier, foi como prisioneiro na Westphália, que concluiu como era importante o seu consumo ao ver o uso que dela faziam os alemães nesses tempos de carência e fome. Foi porém decisivo para a sua divulgação, o apoio dado ao célebre farmacêutico, por Luís XVI e sua mulher Maria Antonieta, ao enfeitarem-se nas vésperas da Revolução, com as flores lilás do delicioso tubérculo.
Única e múltipla, criativa e clássica são os adjectivos que usarei para a classificar. Todos os métodos de cozedura lhe são aplicáveis e para cada um há a variedade mais indicada. Eu cozi a minha Mona Lisa, muito bem lavada, em água fria a que juntei um pouco de sal. Não a descascando, poupei muitas das suas vitaminas. A batata adora gordura e confesso que poucas coisas me sabem tão bem como um palito de batata frita em Julho!
No forno também são óptimas, gratinadas ou assadas. Como aprecio os sabores fortes, neste Inverno frio, a falar de batatas, o que me apetecia eram umas batatas à padeira. Pouco me importa com o quê, um ovo estrelado chega.
Lave, descasque e corte em rodelas finas 800 g de batatas para assar (Franceline, por ex), enxugue e tempere com sal e pimenta. Corte igualmente 6 cebolas e aloure-as numa frigideira com 2 colheres de azeite e 1 de manteiga. Num tabuleiro bem untado de manteiga, deite uma camada de rodelas de batata; espalhe por cima parte das cebolas; batatas, cebolas e assim até acabar. Regue com 5 dl de caldo de galinha. Tape o tabuleiro com folha de alumínio e leve a forno bem quente (220º). 30 m depois retire a folha, espalhe por cima 2 colheres de manteiga e deixe cozer até que todo o caldo tenha desaparecido .
Tal como eu, a batata também aprecia o luxo assem em folha de alumínio uma batata farinhenta, da variedade ratte, por ex; acompanhem com caviar e natas acidificadas com limão. Vão ver como o luxo pode ao mesmo tempo ser simples e muito bom.