Jan Kuciak é o segundo jornalista morto na UE em cinco meses. Está o jornalismo de investigação em risco na UE?.Os Repórteres Sem Fronteira repararam nos últimos dois ou três anos numa deterioração da situação de liberdade de imprensa na UE. Publicámos diferentes relatórios a referir o facto de, por diferentes razões, os jornalistas estarem sob pressão. Uma delas é o aumento do populismo e o facto de vários líderes políticos estarem publicamente a criticar, a insultar ou a atacar jornalistas e haver uma espécie de desinibição da população que considera que, por isso, não se pode confiar nos jornalistas e eles não deviam ser respeitados..São esses os sinais de alarme que devemos estar atentos?.São factos, mais do que sinais de alarme. O sinal de alarme é o nível de corrupção, outro o conluio entre media e políticos. Enquanto a corrupção alcançar determinado nível, é impossível para os jornalistas fazerem o seu trabalho corretamente e tornam-se alvos. O ranking no índice da Transparência Internacional diz muito, porque quanto mais elevada é a corrupção, mais difícil é para os jornalistas investigarem e mais perigoso é fazerem esse trabalho..No caso de Daphne Galizia, de Malta, três pessoas foram acusadas da morte. Mas não houve mais consequências. Estes crimes ficam impunes?.Uma das coisas que temos pedido é o fim da impunidade e a nossa maior exigência, quer em Malta, quer na Eslováquia, é que haja investigações independentes internacionais. Nós não confiamos nas autoridades para liderarem as investigações. Para garantir que não só os perpetradores, mas também os autores morais são levados à justiça. Uma investigação independente aumenta também o nível de credibilidade no governo e de confiança que as pessoas podem ter..A UE pode ajudar nas investigações. Que mais pode fazer?.Neste momento acho que a UE está em choque porque ninguém esperava outro jornalista morto em cinco meses. Queremos que as instituições europeias assumam o seu papel e apoiem o novo mecanismo para a proteção dos jornalistas. Queremos os jornalistas protegidos não apenas como em Itália, com polícias, mas também mecanismos para evitar que se tornem num alvo. Aproveito para louvar a iniciativa portuguesa, que foi votada há um mês no Parlamento, referente à proteção dos jornalistas. Este é precisamente o tipo de ação que estamos a pedir, iniciativa local que apoie as nossas exigências na ONU. Agora, qualquer pessoa que ataque um jornalista em Portugal vai enfrentar sentença criminal, este é o tipo de coisa que pedimos.