A turma do reitor, do ator e do governante
Lembra-se da primeira escola ?
Lembro-me muito bem. Chama-va-se Lar Educativo João de Deus e ficava na Rua Viriato, num prédio que foi agora destruído. Ainda me lembro de ver o Hotel Aviz intacto à minha frente. Fiz lá toda a instrução primária.
E professores que tenham ficado na memória?
Lembro-me muito bem da professora de Português, Dona Alice, do rigor, da maneira como funcionava connosco. Tenho uma excelente memória desses tempos. Fiquei com amigos para toda a vida. Tenho um amigo, Francisco Abecassis, radiologista, que foi meu colega de instrução primária, de liceu e de faculdade.
E após a primária?
Fiz o meu exame numa escola oficial e o exame de admissão aos liceus. Depois tive sete anos de liceu Camões.
No liceu houve algum professor que tenha contribuído para o orientar para a área da saúde?
Diretamente para a saúde, não. O meu pai era médico, era um clínico, eu já estava orientado para as ciências da vida. Mas tive professores marcantes, como o Mário Dionísio, de Francês, Maria Ema Tarraça Ferreira, de Português, e lembro-me também muito bem da Adélia Silva Melo, a Inglês.
Para alguém que viria a seguir ciências, é curioso verificar que as suas referências são todas de professores das humanísticas...
É verdade. Também me lembro de alguns professores da área das ciências. Mas estes, que referi, marcavam não tanto pelos conteúdos mas pelo acompanhamento, pela maneira de estar. Em relação aos conteúdos, tenho excelentes memórias de praticamente todos os professores do liceu.
E que colegas de liceu recorda?
Fui sete anos colega de liceu e amigo do eng.º António Guterres [ex-primeiro-ministro]. Fomos colegas do primeiro ao sétimo ano. E também fui colega, do primeiro ao quinto ano, do Luís Miguel Cintra [ator e encenador]. Era uma turma muito particular.
E na Faculdade de Medicina, quem o influenciou?
Nas ciências básicas, lembro-me de figuras como o professor Jorge Horta, de Anatomia Patológica. Na clínica, lembro-me dos professores Celestino da Costa e Ducla Soares. E mais tarde, já no final, na área que acabei por seguir, das doenças pulmonares, o professor Thomé Villar.
Como se tornou investigador em Londres e nos Estados Unidos e depois professor?
Quando estava na fase final do curso trabalhei em investigação na área pulmonar, no departamento de Anatomia do professor Armando Ferreira. E concorri a uma bolsa para ir fazer investigação para Londres. Ganhei a bolsa. Na altura não fazia a mais pequena ideia de que iria ser professor universitário. Estava muito mais preocupado com o que se passava no pulmão. Estive três anos em Londres, fiz doutoramento no Instituto Cardiotoráxico da Univer-sidade de Londres. Entretanto, tive um acaso. A minha supervisora, Lynne Reid, foi convidada para ir para a Harvard Medical School. Acabei por ir com ela e fiquei mais dois anos em Boston. Acabei por passar vários anos a trabalhar como investigador. E creio que foi importante. Entretanto, voltei para Portugal entre [os Governos] Maria de Lurdes Pintasilgo e Nobre da Costa, fixando-me na Faculdade de Ciências Médicas.