A transmissão é da ABC, mas no fim ... ganha a Netflix

No pequeno ecrã, a cerimónia dos Óscares continua em baixa: a transmissão da ABC foi vista por menos espectadores que em 2017
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Não foi muito comentado o facto de, desta vez, a cerimónia dos Óscares ter sido antecipada meia hora em relação ao horário dos últimos anos (cinco da tarde em Los Angeles, oito em Nova Iorque, uma da madrugada em Portugal). Porquê esta antecipação? Não sabemos, mas podemos admitir que reflecte alguma preocupação com os espectadores do continente europeu, de modo a atrair um pouco mais as audiências de mercados tão importantes como França, Reino Unido e Alemanha.

Aliás, a cerimónia evitou o cinismo de celebrar os filmes como coisa meramente artística, alheia aos movimentos globais do dinheiro. Com ironia certeira, Jimmy Kimmel lembrou mesmo que as receitas de bilheteira dos principais candidatos (apesar de tudo, muito razoáveis) contrastavam com o facto de, durante a própria cerimónia, o "blockbuster" do momento (Black Panther) estar a acumular muitos milhões de receita...

Daí a fundamental importância das audiências no interior dos EUA. Está em jogo o grau de popularidade do próprio fenómeno cinematográfico e, como é óbvio, o valor comercial da transmissão televisiva dos Óscares, mais uma vez um exclusivo da ABC (convém não esquecer que, este ano, o valor médio de um spot publicitário de 30 segundos, emitido durante a cerimónia, rondava os 2,6 milhões de dólares).

Ao longo da semana serão conhecidos resultados mais concisos, mas os primeiros números são pessimistas. No rescaldo dos prémios, a manchete de The New York Times celebrava a "diversidade" da cerimónia, mas o Variety, consagrada bíblia da indústria de Hollywood, exibia um título de gélido pragmatismo: "Audiência dos Óscares em queda".

É certo que, nos EUA, a ABC foi líder absoluta na noite de domingo, superando o total acumulado pelas suas concorrentes diretas (NBC, CBS e Fox). Seja como for, os primeiros números apontam para 18,9 de audiência (num share de 32), o que representa uma descida de 16% em relação aos valores de 2017 - isto sem esquecer que a audiência do ano passado ficou como a mais baixa dos últimos nove anos.

Em 2017, 32,9 milhões foi o número final de espectadores. Não restam dúvidas que o deste ano será claramente menor, ainda mais distante daquele que continua a ser o recorde das cerimónias realizadas no século XXI: 43,7 milhões, em 2014, com apresentação de Ellen Degeneres e 12 Anos Escravo a arrebatar o Óscar máximo.

Na encruzilhada deste números deparamos com um imbróglio muito típico do nosso presente de permanente agitação tecnológica: como preservar a dimensão televisiva dos Óscares? Ou ainda: que tipo de televisão pode refletir uma conjuntura cinematográfica em que a arte e os negócios passam cada vez mais pelas plataformas virtuais? Sinal dos tempos: com o documentário Icarus (sobre o doping no desporto), a Netflix ganhou o seu primeiro Óscar.

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