A Top Gun afegã pediu asilo político aos Estados Unidos

Niloofar Rahmani está há 15 meses a treinar com a força aérea americana. Agora a jovem de 25 anos pediu asilo à América, alegando que a sua vida corre riscos se voltar ao seu país. Governo afegão nega.
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A primeira vez que Niloofar Rahmani teve a certeza que queria ser piloto foi em finais dos anos 90. A menina de oito anos e a irmã mais velha foram com a mãe a um parque de diversões no Paquistão onde a família se refugiara para escapar ao domínio dos talibãs no Afeganistão. Depois de uma volta na montanha-russa, Niloofar chegou ao pé da mãe a rir, enquanto a irmã, mais velha dois anos, vinha em lágrimas. "Adorei estar tão longe do chão, estar ali, no céu!", explicou anos mais tarde à Al-Jazeera.

O sonho da jovem afegã começaria a realizar-se dez anos depois, quando, aos 18 anos, viu um anúncio a dizer que a força aérea afegã estava a recrutar mulheres. Concorreu e foi aceite, dando início ao programa de treino. Dois anos depois sentou-se pela primeira vez sozinha aos comandos de um avião: um Cessna 182. Mas quando a sua história chegou às páginas dos jornais - nacionais e internacionais - Niloofar e a família começaram a receber ameaças de morte. Tanto de militantes islamitas, como até de familiares mais distantes, descontentes com o seu modo de vida.

Há 15 meses a treinar com a força aérea norte-americana no Arkansas, Florida e Texas, a piloto afegã, Niloofar anunciou ontem que pediu asilo aos Estados Unidos, alegando que se regressasse a sua vida correria riscos.

"As coisas não estão a mudar para melhor no Afeganistão. Estão cada vez piores", queixou-se a capitão Rahmani numa entrevista ao The New York Times na sexta-feira. Apelidada pelos media de "Top Gun afegã" - numa referência ao filme de 1986 em que Tom Cruise interpretava um piloto da marinha -, Niloofar há muito se queixa de os colegas homens a tratarem com desdém quando está a trabalhar na base.

O Ministério da Defesa afegão reagiu de imediato, questionando as alegações da capitão Rahmani. "Tenho certeza que ela estava a mentir quando disse que estava a ser ameaçada, só para conseguir asilo", afirmou o porta-voz do ministério, general Mohammad Radmanish. Em declarações à AFP, acrescentou ainda: "O que ela disse nos EUA foi irresponsável e inesperado. Ela traiu o seu país. É uma vergonha!"

Mulher de Coragem

Vista por muitas mulheres afegãs como uma heroína nacional e apontada pela comunidade internacional como um exemplo a seguir, Niloofar recebeu em 2015 o prémio Mulheres de Coragem do Departamento de Estado americano. Mas a sua atitude valeu-lhe agora mais duras críticas do que aplausos.

Foi o caso da fotojornalista Maryam Khamosh que no Facebook deixou a questão: "Cara Niloofar, achas que os teus problemas são mais importantes do que os de milhões de outras afegãs". E até as forças da NATO no Afeganistão lamentaram que a capitão tenha afirmado que a situação de segurança no país está a piorar. "As forças de segurança afegãs conseguiram grandes progressos", afirmou a coligação em comunicado.

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