A Terra, a outra emergência

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A Terra que nos acolhe, tem hoje o seu Dia Mundial. Em tempo de pandemia será difícil obter a atenção dos cidadãos e das comunidades para os problemas, os encantos e os desafios do planeta. Em plena emergência, quando alguns estão doentes, outros em casa e os resilientes estão na rua para assegurar que nada de essencial falte, cresce a ideia de termos de reforçar a atenção aos sinais do planeta e ao nosso perfil de vida individual e comunitária, numa espécie de urgência em parar para pensar sobre o que temos andado a fazer, o que nos está a acontecer e o que deve ser feito.

Sendo certo que a atual emergência de saúde pública e muitos dos problemas são de ordem global, na maioria das situações, eles são o resultado da soma dos nossos comportamentos individuais e dos modelos de funcionamento das comunidades locais.

A água é um bem essencial para a vida, em especial, para a vida humana, estando sujeito a todos os impactos resultantes das nossas relações com o meio ambiente, das alterações climáticas e do modelo de funcionamento das sociedades modernas. Pela sua relevância para a vida e para os nossos hábitos individuais e padrões de vida, este recurso mineral é um bem escasso, que deve ter um uso regrado, sustentado e eficiente, sem desperdícios ou ampliações de riscos para o seu ciclo na natureza e ao serviço dos humanos.

A Terra precisa do nosso compromisso. Porque a soma desses impulsos individuais, ainda que não acompanhados em algumas latitudes, contribuirão certamente para uma melhor gestão dos recursos naturais, um melhor ambiente e uma maior sustentabilidade.

Tal como na pandemia, em que os comportamentos individuais são decisivos para não ampliar o contágio e não nos expormos e não expormos os outros aos riscos, a Terra, o nosso planeta, precisa desse equilíbrio e desse compromisso.

Um compromisso que deve ser extensivo a quem decide e a quem gere, por exemplo, reforçando o combate às perdas de águas nos sistemas de abastecimento, repensando os sistemas de armazenamento, tornando-os mais resiliente aos períodos de menor precipitação ou apurando a malha do tratamento dos efluentes para que não existam contaminações dos aquíferos, que, pela acumulação no organismo, possam ser lesivos para a saúde pública.

Com um panorama internacional instável, imprevisível e com forte predominância de interesses particulares, a esperança não será a última a morrer, mas precisamos de nos por a caminho, agindo no plano individual e local para dar o impulso decisivo, que dificilmente será adotado no plano global com a agilidade que está ao nosso alcance.

Comemorar o Dia Mundial da Terra em cada dia do ano, significa ter de reconfigurar o planeamento, a sustentabilidade das opções e a gestão quotidiana dos recursos que o planeta nos disponibiliza, orientando-os para um sentido de futuro, em que ninguém fique para trás, não existam descontinuidades, nada seja desperdiçado e adotemos as melhores soluções para a disponibilização dos bens e serviços essenciais às populações.

O compromisso local terá de estar sempre na melhor disponibilização das soluções que, na intermediação entre a Terra e as necessidades das pessoas, encontrem as melhores condições de acesso, de sustentabilidade e de boa gestão dos recursos.

Este é um tempo especial, em que o esforço essencial tem de estar na resposta à emergência de saúde pública, depois na salvaguarda das dinâmicas sociais e económicas, mas depois da urgência, precisamos de continuar a agir em conformidade. Não ignorar os sinais, não desvalorizar as rotinas que implicam desperdício e recentrar a atenção no que é verdadeiramente essencial e estratégico para as pessoas e para o país. A água, sinónimo de vida, terá de estar presente nesse elenco de renovadas prioridades, nas decisões e nos comportamentos. Por nós, pela Terra que hoje comemoramos, em tempos em que os estados de alma estão tolhidos pelas perdas que já registámos.

Que a memória esteja presente nas decisões de futuro, em que a urgência dos sinais da Terra nos interpela à soma de várias ações individuais e locais. Também no uso e gestão da água, com o planeta como palco, cada um pode fazer muito mais do que pensa. Um pequeno gesto, pode fazer toda a diferença. Agora que nos reconfiguramos em muita coisa, é ousar mudar. Também na água, pela Terra, por todos nós.

CEO da AQUAPOR

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