A terceira geração dos Kim

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Quando Kim Il-sung morreu, em 1994, o seu sucessor estava há muito escolhido. Ao Grande Líder que governou a Coreia do Norte durante meio século sucedeu o filho mais velho, o Querido Líder Kim Jong-il, dando início à primeira dinastia num país comunista. Convencidos de que Kim não tinha o carisma que fez do seu pai um herói incontestado para 23 milhões de norte-coreanos, muitos analistas previram que a sua chegada ao poder era o fim do regime. Mas 13 anos depois, o homem que os media ocidentais descrevem como um playboy com queda para o álcool já começou a preparar dois dos nove filhos (contando com os ilegítimos) para lhe suceder. E ao mesmo tempo desafia o mundo fazendo ensaios nucleares.

Aos 65 anos, Kim Jong-il procura determinar qual dos dois filhos mais novos é mais apto a dirigir a ditadura. Para isso está a submeter Kim Jong-chul, de 26 anos, e Kim Jong-woon, de 23, a testes militares, revelou a agência sul-coreana Yonhap.

À frente de um dos países mais isolados do mundo, onde a juche (auto-suficiência) é a filosofia dominante, Kim Jong-il manteve o secretismo como arma contra o Ocidente.

O mistério estende-se à própria família do Querido Líder. Dos filhos, apenas são conhecidas fotografias do mais velho, Kim Jong-nam. Aos 36 anos, este homem com visível excesso de peso seria o herdeiro natural, mas as suas aventuras - que o colocaram por várias vezes nas páginas dos jornais - podem ter sido fatais para as suas ambições. Em 2001, foi detido num aeroporto de Tóquio ao tentar entrar no Japão com um passaporte falso da República Dominicana. E, em Fevereiro, o South China Morning Post garantia que o filho mais velho de Kim vive em Macau. E é frequentador assíduo dos casinos do território, onde Pyongyang tem várias contas bancárias.

Filho da ex-actriz Sung Hae-rim, que morreu de ataque cardíaco em Moscovo, em 2002, Kim Jong-nam também pode ser prejudicado por esta não ser a mulher preferida do seu pai. Reconhecido mulherengo, a verdadeira paixão do ditador, que usa sapatos altos e uma poupa no cabelo para disfarçar a pequena estatura, terá sido Ko Young-hee, a mãe de Jong-chul e Jong-woon. Essa filha de norte-coreanos emigrados no Japão encantou o Querido Líder durante uma actuação do seu grupo de dança.

Nos últimos meses, a máquina de propaganda de Pyongyang, responsável pelo culto da personalidade em torno de Kim Il-sung e Kim Jong-il, lançou uma campanha em que a terceira companheira do Querido Líder é idolatrada. Num documento do exército a que a BBC teve acesso, Ko é referida como a "estimada mãe" e a "mais leal" companheira de Kim. Tudo isto fez aumentar as especulações de que um dos seus filhos seja o próximo líder da Coreia do Norte.

No Ocidente, Jong-chul e o seu irmão Jong-woon permanecem um verdadeiro mistério. Do primeiro sabe-se que estudou na Suíça com um nome falso. Foi à porta da Escola Internacional de Berna que foi recolhida a sua única imagem conhecida. Segundo a organização GlobalSecurity, o jovem é fã de Eric Clapton e terá ido a um concerto do cantor britânico na Alemanha em 2006. Foi também aí que assistiu a um jogo do Mundial de futebol.

No seu livro de memórias I Was Kim Jong-il Cook (Fui o Cozinheiro de Kim Jong-il), o japonês Kenji Fujimoto, que durante 13 anos serviu o Querido Líder, garantiu que Jong-chul nunca irá governar porque o pai o considera "uma menina". Uma opinião que pode abrir o caminho para Jong-woon. O mais novo dos Kim, que a mãe chama Rei Estrela da Manhã, será o mais parecido com o pai e também o seu favorito.

Mas se, apesar dos boatos sobre os seus problemas de saúde, Kim Jong-il chegar aos 82 anos como o seu pai, os norte-coreanos ainda têm muito tempo para preparar o último adeus ao seu Querido Líder e a boas--vindas ao seu sucessor. |

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