A terapeuta que ensina pessoas a falar com os aviões

Isabel Guimarães dá aulas de Terapia da Fala na Escola Superior de Saúde do Alcoitão mas acompanha também muitos profissionais como cantores, atores, jornalistas e até controladores de tráfego aéreo
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Isabel Guimarães é terapeuta da fala e professora na Escola Superior de Saúde do Alcoitão. Tanto na licenciatura como no mestrado, forma futuros terapeutas da fala.

"Começamos com a parte normal da voz e como é que ela se processa no primeiro ano do curso e depois passamos para a fase de quando as pessoas têm problemas de voz o que é que precisam fazer", conta a professora.

Os problemas de voz podem afetar qualquer um, desde pessoas com idades mais avançadas ou até mesmo crianças. "No caso das crianças tem muito a ver com os comportamentos de esforço. As crianças que estão nos recreios ou que jogam futebol e que gritam muito, há um cansaço de voz e ficam roucos", explicou.

Há também problemas de voz relacionados com hábitos de vida, como a alimentação ou o tabaco. "Pode dar origem a lesões na laringe, como se fosse uma queimadura e as pessoas perdem a voz", referiu.

Mas nem sempre se trabalha apenas com a voz. Isabel Guimarães explica que as áreas de intervenção do terapeuta da fala são muito diversas. "O espetro é brutal. Mas, para a maioria das pessoas, o terapeuta da fala é para ensinar a falar. Desde doença de Alzheimer, doença de Parkinson, esclerose lateral amiotrófica, traumatismo cranioencefálico. Sempre que exista qualquer alteração da comunicação oral ou da comunicação não oral, temos um âmbito de atuação nessas áreas todas", explicou.

Profissionais que dependem da voz

Além das aulas na Escola Superior de Saúde do Alcoitão, Isabel Guimarães prepara também outros profissionais que trabalham com a voz, como jornalistas, cantores, atores e controladores de tráfego aéreo.

Quando a convidaram para treinar controladores de tráfego aéreo, Isabel Guimarães estranhou mas depois percebeu que estava tudo relacionado com a prosódia. "A prosódia é sonoridade da forma como eu falo. Há pessoas muito monocórdicas e há outras que são muito exageradas. Estas variações, quando se é controlador de tráfego aéreo e se está a emitir mensagens via rádio para uma pessoa que não nos está a ver e que está responsável por 400 e tal pessoas, é preciso que não haja dificuldades de compreensão do que é que o outro diz", explicou.

Para não haver problemas há que preparar a voz e a dicção mesmo que não seja o médico a mandar. Isabel Guimarães explica que a terapia da fala implica tempo e dedicação. "A pessoa vem porque o médico disse. As pessoas vão à espera de receber um comprimido. E implica um investimento pessoal de fazer exercícios, de aprender, de se ouvir e as pessoas não têm paciência", lamenta.

Ao longo do tempo, a terapia da fala foi conquistando espaço sobretudo porque a voz é cada vez mais encarada como uma ferramenta de trabalho. "As pessoas preocupam-se em não ficar doentes".

Isabel Guimarães lamenta que existam profissionais que se resignem às consequências de um uso intensivo da voz. "Há profissões que aceitam quase como um fatalidade que a voz gasta-se. Eu sou professor já sei que ao fim dos anos vou ficar sem a voz. Erradamente porque nós podemos fazer a tal prevenção", garantiu.

Ainda assim a terapeuta admite que ainda existem entraves a nível económico. "Se quisermos um trabalho de voz quando estamos doentes, há os serviços hospitalares, com as dificuldades de atendimento, de possibilidade de acesso. Mas se eu quiser melhorar a minha voz, eu vou ter de privadamente pagar. E nem sempre esse custo é fácil de suportar, depende dos níveis económicos", lamentou.

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