A teoria da 'Conspiração' que quem tem neurónios pode ler
Confesso que o tipo de "literatura" na qual Dan Brown se tornou o maior expoente comercial neste início de milénio não é exactamente aquele em que os meus olhos deslizem de página em página até à palavra final. Como é o caso dos John Grisham ou Ken Follet, que tanto vendem nas bookshops de aeroporto e livrarias com produtos descartáveis...
Por isso, quando sai um livro deste tipo não perco tempo algum. Mas... o senhor Dan Brown tornou-se um caso diferente, há que ter coragem - não custa quase nada - de o assumir. Tudo começou quando, por obrigação profissional, tive de dar uma leitura às primeiras páginas de O Código Da Vinci e senti o irreprimível desejo de continuar a ler o volume até perfazer as três primeiras centenas de páginas. Foram devoradas de um fôlego só e até ao seu fim logo na manhã seguinte.
Foi essa capacidade de sedução que me surpreendeu, bem como a existência de uma força de atracção que até então não existia para mim neste tipo de livros. A ajudar a leitura estavam a moldura de um thriller, os capítulos intervalados em que decorriam duas acções constantes e paralelas, um cenário onde a arte e a ciência de um dos maiores protagonistas da cultura renascentista serviam de leitmotiv à intriga e outros ganchos literários que o Código potenciava e mostrava resultarem da rodagem que o escritor já ganhara a escrever livros do género. Aliás, o isco que eu mordera acabou por pescar mais de duas centenas de milhares de portugueses, que também apreciaram a escrita e o suspense de Dan Brown e adquiriram a saga protagonizada pelo professor Robert Langdon, um produto que viria a ser considerado indesejado pelas autoridades religiosas e que desagradou a muitos católicos.
Depois, com o sucesso fulminante, a editora foi repescar o título que Dan Brown publicara imediatamente antes do Código -Anjos e Demónios - , que provocou no mercado editorial nacional os mesmos efeitos que um segundo bombardeamento de napalm, pois os leitores portugueses voltaram a devorar a literatura de Dan Brown. Confesso que, de novo, me confrontei com a obrigação de o ler profissionalmente e foi sem qualquer dificuldade que o fiz. Lia-se com a mesma velocidade que o anterior e até o considerei mais interessante que o próprio Da Vinci.
Talvez, por estes antecedentes, estivesse preparado para ler a tradução da próxima grande bomba do autor, o volume que completará a anunciada trilogia, quando fui surpreendido pela publicação d'A Conspiração. Parece que o próximo ainda não está pronto e, portanto, há que editar o passado deste escritor. Atitude que não se deve recear, porque estamos perante um autor que não decepciona e que já incluía na sua anterior capacidade de construção de enredos a mesma genialidade que veio a fixá-lo como um escritor de massas e de milhões de livros vendidos.
Em A Conspiração, estamos perante um volume que deve ser lido de uma vez só até à página 412. Nesse momento, o leitor pode respirar e preparar-se para terminar as 160 páginas em falta numa próxima tirada. Porque a intriga que nos é contada volta a ser exaltante e impossível de interromper até ao momento em que entendemos o verdadeiro contorno da fotografia.
Principalmente porque Dan Brown consegue dar-nos a volta e fazer acreditar que a verdade é uma e só a desfazer a meio do livro, quando explica a razão de ser do primeiro capítulo. Que é curto e próprio para agarrar o interesse do leitor - como já acontecera nos outros dois livros traduzidos para o português. A partir dessa primeiríssima suspeição, está feito o convite e é obrigatório ir até ao fim para descobrir como é o mundo da política norte-americana e os basti- dores da NASA, dois dos pilares que sustentam esta aventura. Dan Brown não resiste, contudo, a envolver o leitor e a convencê-lo de que tudo o que lê é verdade, que poderia ser assim ou virá a acontecer.
Mas quem lê este tipo de livros gosta de ser enganado. E não se importa de ser o último a saber...
a conspiração
Autor. Dan Brown
Editora. Bertrand Editora
Páginas. 575
Género. Romance
Preço. 18,46
Classificação.