A sustentabilidade está na partilha

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No final do mês de outubro, celebra-se o Dia Mundial da Poupança, que pretende consciencializar as pessoas para a importância de poupar. O tema não poderia ser mais atual, numa altura de tanta incerteza, de tantos desafios ambientais, sociais e económicos. Vivemos um período de inflação extrema, derivado de um conjunto de fatores como a guerra na Ucrânia, a crise energética, a crise ambiental ou o pós-pandemia. Por isso, penso que uma das nossas prioridades atuais se deve basear em perceber como nos podemos tornar cidadãos financeiramente informados e ambientalmente conscientes.

Recordo-me de uma frase, dita por um professor da faculdade, que definiu o meu percurso profissional: "a gestão de operações é o que determina a evolução económica". Esta é uma frase que pode levar a muita discussão e desacordo, no entanto, a meu ver faz todo o sentido. Desconstruindo o seu significado, um produto ou serviço pode, ou não, seguir para comercialização, tendo em conta os custos associados a cada um dos passos da cadeia de valor. Isto acontece porque, desde a origem até à distribuição, a operação pode deixar de ser rentável.

Para além da viabilidade de um negócio estar dependente de uma gestão otimizada de operações, existe um outro fator de extrema relevância: as tendências. E uma das tendências que observo em ascensão, e que acho imperativa para combater os problemas associados à crise climática e económica, é o elemento partilha. Este elemento está no centro dos negócios de algumas das empresas mais bem-sucedidas do mercado, como por exemplo a Uber ou a Voi, em termos de mobilidade, ou o Airbnb, na vertente de alojamento.

Juntando estes dois fatores, faz sentido pensar em quatro elementos: propósito, sentido de utilidade, frequência de utilização e retorno. Eu tenho um carro. Mas porque necessito de um carro? Qual é o valor que procuro? Que benefício vou conseguir adquirir com este produto? Como mantenho o nível de satisfação? Do ponto de vista do valor, podemos assumir que a resposta a estas perguntas é a obtenção de flexibilidade de mobilidade, autonomia, independência, segurança, conforto e, em algumas instâncias, diria status.

Em termos de satisfação ou retorno, na maior parte dos casos, utilizamos o veículo pessoal para irmos até ao nosso local de trabalho e voltarmos. Este caminho, para muitos, nem demora uma hora. Também o utilizamos no fim de semana, mas não mais do que doze horas. Assumindo uma hora por dia de utilização, durante os dias úteis, contam-se vinte e duas horas mensais. Acrescentando os fins de semana, contando com doze horas por cada um, obtemos quarenta e oito horas. Num mês, utilizamos, em média, o nosso veículo cerca de setenta horas, praticamente durante três dias, e o mês tem trinta dias. Se acrescentarmos as despesas em combustível, seguro, estacionamento e desgaste, o valor começa a ser um fator posto em causa.

Assim, o exemplo do carro serve para repensarmos a utilidade, que damos como adquirida, das coisas que temos. Porque não partilhamos boleias com vizinhos? Porque não andamos de transportes públicos e porque não utilizamos a mobilidade partilhada? Quantos produtos temos em casa que não utilizamos com frequência? A meu ver, a partilha traz um sentido de comunidade importante na resolução dos desafios sociais que enfrentamos, e anda de mãos dadas com a otimização das nossas operações pessoais.

O mundo dos negócios está a evoluir para um caminho semelhante a este, em que a otimização e a partilha são dois imperativos na gestão de operações. Basta olharmos para os grandes sucessos económicos que são as empresas que começaram a aplicar este tipo de lógica e, enquanto cidadãos, devemos procurar fazer o mesmo. Porque "a gestão de operações é o que determina a evolução económica", mas também é o que determina a sustentabilidade social e ambiental.

Sermos operacionalmente conscientes vai ajudar-nos a tomar melhores decisões, em termos financeiros e sociais, mas também em termos ambientais. O nosso planeta necessita do sentido de comunidade que este tipo de lógica nos traz. É hora de pensarmos criticamente os dados que damos como adquiridos, com o objetivo de lidar com os desafios diários de uma forma mais eficiente.

Diretor-Geral da Phenix Portugal

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