A subtração de 2+2

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Parece que já foi há mais tempo, porque as celebrações do Natal prolongaram as horas em casa e no sofá, mas só passaram dez dias até voltar a correr mal a Rui Rio, após o Congresso do PSD, em que saiu reforçado - e mais responsabilizado - com os seus opositores internos, regra geral, a renderem-se à sua vitória nas diretas do partido. Contam-se pelos dedos das mãos os dias que sucederam ao grande encontro dos Sociais Democratas e Rio já apagou sobre si o elã que emanou do congresso, ficando subtraído - em argumentos e em força - na corrida para as legislativas, ainda em período de pré-campanha.

Culpar alguma comunicação social e António Costa por este aproveitamento é pouco para quem quer ser Primeiro-Ministro e uma narrativa tão básica quanto desnecessária. A retórica faz o político e é essa competência e essa capacidade que permitem distinguir alguns políticos dos muitos que ocupam lugares na política.

Ninguém entende Rio, nem o próprio se fizer o exercício de se colocar de forma, observando-se, ouvindo-se e interpretando-se. Foi assim, muito recentemente, com as palavras publicadas sobre a detenção de João Rendeiro e a atuação da Polícia Judiciária, em que Rui Rio reagiu, em entrevista, à reação de Marcelo sobre as suas palavras publicadas, assumindo que Marcelo não tinha lido a publicação quanto a comentou.

Estaria realmente o Presidente da República a querer distorcer as ideias partilhadas de Rio?

Agora aconteceu exatamente o mesmo, também no contexto de uma entrevista, em relação à hipótese de um acordo parlamentar com o PS. A explicação e as justificações, mais uma vez, adensaram a incompreensão e o ruído que - em primeira instância - Rui Rio podia perfeitamente ter evitado, (1) deixando de estar sistematicamente a desenvolver e a teorizar, especulando, acordos com um Governo do PS, porque isso o coloca permanentemente num papel secundário e inferior, impróprio e estrategicamente desaconselhável para quem lidera a oposição e se propõe ser Primeiro-Ministro, sobretudo em período pré-eleitoral e (2) abandonando a forma como utiliza as suas redes sociais, cujos algoritmos, de facto, o colocam bem lançado através da multiplicação das interações, mas cujo conteúdo e as respetivas repercussão e absorção o deixam absolutamente em queda. Enfim, Rio tem sido lembrado, ouvido e falado mas não pelos melhores motivos e ressuscitou os erros e o fracasso dez dias depois do Congresso do PSD que o trouxe ao colo para a pré-campanha das eleições legislativas.

Não basta posicionar-se ao centro, onde o PS ainda mora. Se quiser vencer, é preciso abandonar o discurso do segundo lugar, moderar a utilização das redes sociais e aprender alguma coisa com António Costa, que os analistas têm destacado como um mau ator em campanha, mas cuja competência tem sobressaído com evidência e distinção, comparativamente ao líder e candidato do PSD.

Não são dois, são quatro. São 2+2! Eis a subtração política de Rui Rio que, justificando o injustificável, tentou somar a legislatura em partes iguais. E ideias para o país? Há 4, pelo menos? Nem que sejam duas mais duas ideias, para começar.

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