A socialista italiana que fez a diplomacia europeia crescer

De ar sério, na maior parte das vezes, Federica Mogherini, ex-MNE de Matteo Renzi, imprimiu nova dinâmica e estilo ao cargo criado pelo Tratado de Lisboa em 2009
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"Para quem é que telefono se quiser falar com a Europa?", perguntou um dia Henry Kissinger. A frase do ex-secretário de Estado norte--americano - entre 1973 e 1977 - foi bastante citada durante as negociações do Tratado de Lisboa, para focar a necessidade de a UE falar a uma só voz e a sua diplomacia ter um rosto em vez de 28. Assim, o novo tratado, em vigor desde 2009, criou uma série de cargos permanentes para dar essa voz à UE. Entre eles está o de alta representante da União Europeia para a Política Externa e de Segurança. Primeiramente ocupado pela baronesa britânica Catherine Ashton, considerada por alguns como pouco carismática, o cargo demorou a ganhar notoriedade. Situação que parece ter mudado um pouco com a sucessora, a italiana Federica Mogherini, que ocupa a pasta há um ano mas conseguiu, aos poucos, fazer crescer a diplomacia europeia.

"Neste ano que passou viu-se uma transformação na máquina da política externa da UE. A UE ultrapassou as cicatrizes, tanto emocionais como institucionais, que foram deixadas por Ashton. (...) Como chefe da diplomacia, Ashton até teve relações bem-sucedidas, como foi o caso de Hillary Clinton, mas no interior da UE não soube ser colaborativa. O nascimento do Serviço Europeu de Ação Externa iria sempre ser difícil, mas tornou--se desnecessariamente complicado por causa das guerras entre a Comissão Europeia, o Conselho e os Estados membros. As relações de Ashton com o então presidente da Comissão José Manuel Barroso, com os outros comissários, com os ministros dos Negócios Estrangeiros dos vários países e com o então presidente permanente do Conselho Europeu Herman van Rompuy eram pobres e pouco produtivas", escreveu Tim King no Politico.eu.

O jornalista considera que as pessoas que ocupam hoje os diferentes cargos europeus justificam, em grande parte, algum do sucesso da diplomacia da UE. "[O atual presidente da Comissão Europeia Jean-Claude] Juncker é um veterano em termos de política internacional e uma pessoa interessada mas menos intervencionista. Viaja menos e fica satisfeito por delegar a diplomacia em Mogherini ou Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros holandês. O grupo de comissários que estão envolvidos nas relações externas reúne-se mensalmente com Mogherini", refere Tim King no Politico.eu, notando que a relação entre a italiana e o atual presidente do Conselho Europeu, o polaco Donald Tusk, também é melhor porque este se interessa mais pela política externa. O seu antecessor, o ex-primeiro-ministro belga Rompuy, "esteve a maior parte dos cinco anos [de mandatos] preocupado com os problemas da zona euro".

Neste momento, embora a crise do euro não esteja resolvida, há questões que se impõem na UE. E têm que ver com política externa. Desde o conflito na Ucrânia às difíceis negociações sobre o programa nuclear do Irão e ao reavivar da tensão israelo-palestiniana, passando pela guerra civil na Síria, a crise migratória e o combate contra o Estado Islâmico, em todos os casos a chefe da diplomacia europeia esteve presente, dando um contributo e intervindo. "A UE é realista em relação à Rússia. Mas nunca seremos empurrados para uma atitude de confronto", disse Mogherini a propósito da Ucrânia, renovando as críticas dos que a acham demasiado pró-Moscovo.

Natural de Roma, capital de Itália, casada e mãe de duas meninas, Mogherini tem como imagem de marca um ar sempre muito sério, quer seja a falar com algum homólogo seu ou com jornalistas. Membro do Partido Democrático e do Partido Socialista Europeu, foi proposta para chefe da diplomacia da UE pelo primeiro-ministro de Itália, Matteo Renzi, de quem foi ministra dos Negócios Estrangeiros entre fevereiro e outubro de 2014 - a terceira mulher a ocupar o cargo. Formada em Ciência Política, ex-estudante de Erasmus, a sua tese versa sobre a relação entre a religião e a política no Islão. Um tema muito atual nos dias que correm.

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