A senadora filha de imigrantes que tem Trump na mira

Meio jamaicana e meio indiana, Kamala Harris não teve dificuldades em fazer-se eleger no estado mais populoso da América, aquele onde o multiculturalismo é já a regra. E não falta quem a imagine a candidatar-se à Casa Branca em 2020.
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A democrata Kamala Harris foi eleita senadora pela Califórnia no dia 8 e já é falada como uma potencial rival do republicano Donald Trump em 2020. Ela própria fez questão de marcar a diferença ao escolher uma ONG de apoio aos imigrantes em Los Angeles como local para a primeira aparição pós-eleição e isso não passou despercebido. O San Francisco Chronicle até lhe dedicou um artigo intitulado "Como a eleição de Donald Trump pode ajudar Kamala Harris", especulando que o discurso anti-imigrantes do futuro inquilino da Casa Branca oferece grande protagonismo à senadora, o que pode ser valioso quando o Partido Democrata tiver de escolher de novo um candidato (candidata?) presidencial.

Nascida em 1964 em Oakland, é filha de uma médica vinda da Índia, e de religião hindu, e de um professor de Economia de Stanford com raízes jamaicanas. Os pais divorciaram-se quando Kamala era pequena e esta foi criada, com a irmã Maya, pela mãe em Berkeley. Cresceu num bairro de maioria negra e cantava no coro da igreja batista local. Durante algum tempo também viveu em Montreal, quando a mãe, especialista em cancro da mama, aceitou emprego no Canadá.

A jovem californiana com antepassados tanto na Ásia do Sul como nas Caraíbas - uma mestiçagem que se reflete nos traços e alimenta o seu discurso político - estudou direito na Universidade Howard, em Washington, e na Universidade da Califórnia.

Até estas eleições era procuradora-geral da Califórnia, o mais multicultural dos 50 estados. Derrotou Loretta Sánchez, uma rival do mesmo partido, e substituirá no Senado outra democrata, Barbara Boxer.

É casada desde 2014 com Douglas Hemhoff, sócio de um escritório de advogado em Los Angeles.

Defensora do controlo das armas e opositora da pena de morte, Kamala é uma das vozes progressistas em alta e o presidente Barack Obama apoiou-a na corrida ao Senado, apesar de a adversária ser uma democrata de longa data (as regras californianas preveem primárias conjuntas e por isso a hipótese de um duelo entre políticos do mesmo partido).

Com um currículo de peso e tantas atenções, a revista Mother Jones e o Huffington Post já a imaginam a desafiar Trump daqui a quatro anos, enquanto o Daily Beast lhe chamou de "Obama em versão feminina". No Senado, será a primeira indiano-americana e também a segunda afro-americana.

Fora da América, Kamala Harris não passa despercebida. E se a britânica Economist já lhe dedicava um premonitório artigo antes de dia 8 ("impetuosa, elegante e eloquente, Harris pode ser uma grande parte do futuro do Partido Democrata"), agora até os jornais indianos, como o The Hindu, veem na senadora com avós no Tamil Nadu a possibilidade de uma mulher derrotar Trump e ser eleita presidente - a vingança fria de Hillary Clinton.

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