A selva amazónica de partidos
Caucus, primárias fechadas, primárias abertas, delegados, superdelegados, superterça-feira, swing states, sistema proporcional, winner-takes-all, colégio eleitoral: agora que entramos no último ato do interminável processo eleitoral dos EUA, a posse do novo presidente, se ainda o acha confuso pense duas vezes. Pense no sistema político brasileiro.
Quem chega ao país com a missão de o tentar explicar ao mundo começa por ter de decorar as seguintes siglas com assento parlamentar: DEM, NOVO, PCB, PCdoB, PCO, PDT, PEN, PHS, PMB, PMDB, PMN, PP, PPL, PPS, PR, PRB, PROS, PRP, PRTB, PSB, PSC, PSD, PSDB, PSDC, PSL, PSOL, PSTU, PT, PTdoB, PTB, PTC, PTN, PV, Rede e SD.
Cada uma das 35 tem depois alianças diferentes em três esferas, a federal, a estadual e a municipal, e todas apresentam especificidades próprias - como, por exemplo, o novato PMB, o Partido da Mulher Brasileira, cujo grupo parlamentar só tem homens.
E da mesma forma que o PMB é um jovem partido nascido na legislatura anterior, 50 outras siglas estão em lista de espera.
Seis partidos com a palavra cristão, cinco trabalhistas, cinco sociais, quatro democratas, além do Animais, que defende os direitos deles, e do Partido Nacional Corintiano, em torno do clube de futebol Corinthians, aguardam aval do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O passo seguinte de quem os decora a todos e os distribui pelos hemisférios esquerdo e direito do cérebro por itens como "governo", "oposição", "assim-assim", "já no parlamento" ou "ainda no TSE", é, por mais frustrante que pareça, esquecê-los. À exceção do PMDB, de Michel Temer e companhia, do PT, de Lula da Silva e Dilma Rousseff, do PSDB, de Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin e Aécio Neves, e de mais um ou dois, todos os outros são irrelevantes ideológica, social e politicamente, meros balcões de negócios fundados por oportunistas à procura do seu quinhão do generoso fundo especial de assistência financeira aos partidos.
Mais importantes do que cada uma das siglas, que surfam na decisão do Supremo Tribunal Federal de chumbar cláusulas de desempenho e vivem à sombra da bananeira democrática mesmo sem votos, são as bancadas suprapartidárias compostas por deputados e senadores às vezes de 30 partidos diferentes unidos por interesses específicos. Dessas, destacam-se três: a da Bíblia, que se fosse partido só seria superada por PMDB e PT e é composta por congressistas evangélicos que se opõem a temas como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a legalização do aborto, a eutanásia, o alargamento do conceito de família, entre outros; a do Boi, que nos momentos de maior coesão chega a um terço dos parlamentares e em cuja agenda está a defesa dos interesses dos grandes agricultores e pecuaristas; e a da Bala, liderada por militares e polícias na reserva ou na ativa favoráveis à posse de armas de fogo.