A segunda revolta do 'Marreta'

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Marretas chamavam, na independência brasileira, aos portugueses não conformados com o fim da colónia. Depois, veio o programa televisivo em que dois bonecos, os Velhos dos Marretas, resmungavam por tudo. Marreta é um telhudo a contracorrente, reaça, marrando nas modas. Não costuma ser boa companhia, nem ele o quer. Porém, em tempos de sentimentos fáceis do "és meu amigo?" e "likes", ser marreta carrega um anticonformismo salutar. Era assim o touro, 500 quilos e só um corno, que o criador Manuel Farinhoto, da quinta do Perre, Viana do Castelo, mandou em maio para o matadouro. Ao subir para a camioneta final, o Marreta (imprevidente, o criador dera-lhe esse nome) revoltou-se e fugiu. Um companheiro, que já estava na camioneta, seguiu-lhe o mugir de Ipiranga e embrenharam-se ambos nos montes de Outeiro. O outro lá anda na guerrilha, mas o Marreta foi apanhado pelas forças repressivas da GNR. Comoção nacional, campanhas de Facebook e angariaram-se 1378 euros para a carta de alforria do Marreta. A troca foi selada, além dos euros, com presunto e chouriço (a independência dos porcos é outra fase...) Em Palhaça, Aveiro, um campo largo e a felicidade esperavam o Marreta. "Mandem fotos e vídeos!", pedia alguém no Facebook. Não brinquem com a comoção, há muito animal maltratado e estas campanhas são boas. Mas acontece que, ontem, o Marreta voltou a fugir e anda a monte. Não tiro lição nenhuma. Conto-a porque gosto desta história.

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