A saúde mental dos portugueses está a deteriorar-se e o burnout já é realidade para muitos

A apresentação do relatório da farmacêutica Stada aconteceu esta quinta-feira na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, em que se analisou o estado dos sistemas de saúde na Europa, com foco nos resultados obtidos para Portugal.
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Mais de metade dos portugueses diz já ter sofrido ou estar perto de sofrer um burnout, pelo estado de elevada tensão emocional e stresse devido a condições de trabalho desgastantes. Esta foi uma das conclusões do STADA Health Report 2022, apresentado esta quinta-feira, em que foram inquiridos 30 000 europeus, incluindo 1997 em Portugal.

A Stada Arzneimittel AG é uma farmacêutica alemã que está em Portugal desde 2005 e que começou a fazer este tipo de estudo na Alemanha, em 2014, para entender os níveis de literacia médica no país. Em 2018, decidiram expandir o estudo para o nível europeu. "O objetivo desta reunião é a partilha da informação que resulta deste estudo com todos os stakeholders para que possamos discutir e oferecer um melhor serviço à população", diz Ana Ferreira.

Ema Paulino, presidente da Associação Nacional de Farmácias (ANF), Hélder Mota Filipe, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos apresentaram os resultados do estudo com numa conversa moderada pela e a jornalista Vera Lúcia Arreigoso.

De acordo com os quase dois mil portugueses que responderam ao inquérito são na sua maioria instruídos, com trabalho qualificado e 57% habita em meios urbanos.

Hélder Mota Filipe fez questão de reforçar que o facto de esta ser a caracterização da população portuguesa que respondeu poder ter alguma influência nos resultados que foram obtidos. "Acredito que se o estudo tivesse sido feito de outra forma que não online, os resultados poderiam ser diferentes", considerou a presidente da Associação Nacional de Farmácias, Ema Paulino.

A primeira conclusão deste relatório aponta que a confiança nos profissionais de saúde diminuiu, mas continua a ser dos valores mais altos dos 15 países incluídos no estudo. Os investigadores são os que atualmente reúnem maior confiança da parte dos portugueses, o que pode estar relacionado com a forma como estes ganharam grande importância na luta contra a pandemia e o regresso à vida dita normal. Em segundo lugar, a confiança de 74% dos inquiridos está depositada nos médicos, e em terceiro lugar, com 69%, está nos epidemiologistas e prestadores de cuidados.

A importância do papel da farmácia e do farmacêutico esteve em cima da mesa, com tanto Ema Paulino como Hélder Mota Filipe a considerarem que é necessário tornar a farmácia numa entrada no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

"Faltam-nos as vias verdes para encaminhar e sinalizar as pessoas que vemos e precisam de ajuda. Especialmente porque após encaminharmos uma pessoa não sabemos o que acontece depois, é necessária uma maior coordenação com o SNS", considerou Ema Paulino.

Outras das grandes conclusões do estudo é que a satisfação com o sistema de saúde tem vindo a diminuir, valor que passou de 74% em 2021 para 64% este ano. O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos considera que este declínio está associado à queda de confiança nos profissionais de saúde.

A saúde mental dos portugueses também se tem vindo a deteriorar, com quase metade dos adultos portugueses (47%) a dizer que os seus níveis de stress pioraram com o início da pandemia.

O burnout também se tornou numa realidade para muitos. "O burnout é algo que vem acumulando e é normal que as pessoas sintam agora, dois anos depois, este esgotamento. O facto de terem de gerir o stress e outras obrigações fez com que só agora sentissem este esgotamento", explica Hélder Mota Filipe.

A necessidade de voltar a conjugar todos os aspetos das nossas vidas, tanto presencialmente como à distância, trouxe às pessoas um sentimento de assoberbamento. O esbatimento das fronteiras entre aquele que é o espaço pessoal e o espaço profissional também acaba por contribuir para o burnout.

Estar com os amigos e recorrer aos hobbies é a principal forma que os portugueses procuram para lidar com a sua saúde mental. O descanso, exercício e o cuidar de si mesmo também entram na lista dos inquiridos. Os medicamentos são uma opção para 35% dos inquiridos. Tanto o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos como a presidente da Associação Nacional de Farmácias consideram que a utilização de medicação para tratar a doença mental não deve ser demonizada, pois em certos casos pode ser uma das poucas opções.

"Não tenho a certeza se os médicos conseguem gerir a prescrição de medicamentos em todo o seu processo, e é aí que o papel dos farmacêuticos é importante", explica Hélder Mota Filipe. Entendem que uma abordagem multidisciplinar entre as farmácias e o Serviço Nacional de Saúde, se pode tratar as questões da saúde mental da melhor forma possível.

Segundo os resultados do inquérito, 59% dos portugueses dizem que estariam dispostos a procurar um psicólogo ou um psiquiatra para tratar da sua saúde mental. O facto de os inquiridos serem mais instruídos e com trabalho qualificado pode ser uma explicação para o valor obtido ter sido alto. Portugal está entre os que mais se esforçam para falar da saúde mental com um clínico geral.

"Embora seja preocupante confirmar a deterioração do estado de saúde física e mental da população portuguesa nos últimos dois anos, é encorajador confirmar a elevada confiança nos profissionais de saúde", comenta Ana Ferreira, diretora-geral da Stada em Portugal.

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