Em 1907, cada português consumia, em média, 10,9 quilos de carne de porco por ano, cerca de 30 gramas por dia (Rui Cascão, "À volta da mesa: sociabilidade e gastronomia", in Irene Vaquinhas, História da Vida Privada em Portugal - A Época Contemporânea, direção de José Mattoso, Lisboa, Círculo de Leitores e Temas e Debates). Em 2018, cada português consome, em média, 43,7 quilos de carne de porco por ano, o que dá cerca de 120 gramas por dia. O valor quadruplicou em pouco mais de cem anos..Se o crescimento do consumo de suínos foi aumentando sucessivamente ao longo do tempo, é facilmente explicável o destaque que o Diário de Notícias deu na sua edição de 5 de abril de 1941 à apresentação, na Escola de Medicina Veterinária, daquilo a que chamaram "um novo processo de reprodução animal"..Em plena Segunda Guerra Mundial, em pleno tempo de escassez de alimentos e dificuldades de importação de produtos, um problema de esterilidade dos animais causava prejuízos quantificados na ordem dos "50 000 contos por ano". Mas existia uma solução à vista..Dizia a notícia do DN: "Adentro de um programa puramente científico mas do maior interesse para a economia nacional, iniciou ontem a Escola de Medicina Veterinária várias comemorações sob a designação de "O Dia da Fecundação Artificial", ou seja, o estudo da inseminação artificial em várias espécies de pecuária cuja esterilidade muitos prejuízos está causando avaliados pelos competentes no assunto em mais de 50 000 contos por ano"..A notícia, a uma coluna, não tem fotografia, mas houve um repórter fotográfico que registou vários momentos desse solene dia 4 de abril de 1941. Na plateia, dezenas de homens de fato e gravata - os chapéus estavam pendurados em cabides pregados nas paredes - uns sentados, outros esticados e outros mais atrás em pé, olhavam com interesse e espanto a ação que decorria no palco do anfiteatro. Não era para menos. Um porco vivo, com as patas de trás atadas com uma corda, repousava em cima de um apoio. Estava rodeado por vários homens de bata branca e mangas arregaçadas e um outro, de sobretudo, mala e chapéu na mão, que parecia supervisionar a demonstração..A sessão, continuava a notícia, contou com uma preleção do "professor sr. Neves e Castro", que "desenvolveu com brilho o tema da sua lição - a luta contra a esterilidade dos animais domésticos". O convidado principal era, porém, um italiano (seria o homem do sobretudo?), o professor Telésforo Bonadonne, diretor do Instituto Lazzaro Spellanzani de Milão, que expôs "os resultados obtidos em Itália com a fecundação artificial, cujas vantagens encareceu". O professor italiano teceu elogios à equipa de veterinários portugueses. Seguiu-se a projeção de vários filmes e sessões de demonstração das técnicas de inseminação artificial.."À noite, realizou-se um banquete em nome do eminente professor italiano." Desconhece-se a ementa.