A saída de clientes da EDP já supera as entradas. Elétrica perde quota de mercado há 18 meses
Por mês, são cerca de 40 mil os clientes na luz e 15 mil no gás os que mudam de empresa fornecedora de energia. De acordo com a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), na eletricidade, a EDP "é o comercializador em que existe um maior número de entradas mas também mais saídas de clientes". De acordo com o mais recente boletim do regulador, "a EDP detém cerca de 80% do número de clientes", mas tem vindo a perder quota de mercado desde fevereiro de 2018, "o que significa que o número de saídas de clientes é superior ao número de entradas". Há um ano, a elétrica tinha 83% dos consumidores em mercado livre.
"Por outro lado, a quota em consumo da EDP representava em março de 2019 apenas 41,5% de todo o fornecimento em mercado livre", revelou a ERSE ao DN/Dinheiro Vivo.
Contactada, a EDP Comercial não revela o número de entradas e saídas de clientes mas, face à análise da ERSE, garante que "tem mantido um saldo líquido de saídas de clientes estável em 2018 e 2019", informou fonte oficial ao DN/Dinheiro Vivo.
Quem está a angariar os clientes que saem da EDP, a ERSE não revela, mas os mais recentes boletins do regulador mostram que desde o início do ano a Endesa e a Iberdrola viram as suas quotas aumentar todos os meses em 0,1 e 0,2 pontos percentuais, respetivamente, até chegar a 5,9% e a 5,4% em março. A Galp tem mantido estável a sua quota de 5,1%. Com apenas 1,7% dos clientes em mercado livre, a Goldenergy revelou recentemente ao Dinheiro Vivo que por mês recebe, em média, cerca de quatro mil novos clientes.
Já o último balanço do portal Poupa Energia, que permite pedir automaticamente a mudança de comercializador, mostra que a Galp Power, Goldenergy e Iberdrola somaram 92% dos pedidos de mudança através do site da ADENE. As três empresas somaram no total quase mil dos pedidos de alteração de tarifário e de empresa de fornecimento de energia doméstica. Neste cenário, a Galp destaca-se largamente com 680 dos pedidos de mudança online, enquanto apenas 27 pessoas manifestaram vontade em realizar um novo contrato com a EDP Comercial.
Perante estes números, a ERSE admite uma "tendência crescente de mudanças de comercializador no quadro do mercado livre". "A ERSE prevê que o número e o ritmo de mudanças se mantenham em 2019. Embora continuem a ser necessárias medidas e ações junto dos consumidores, os consumidores portugueses estão hoje mais atentos e conscientes do mercado de energia, que é dinâmico, tem dezenas de comercializadores e centenas de ofertas comerciais", disse fonte oficial da ERSE.
De acordo com o regulador, grande parte dos consumidores que mudam de comercializador "procuram sobretudo melhores condições de preço, mas também há consumidores que procuram um melhor serviço comercial, ou ofertas específicas com carácter mais ecológico". O processo de mudança demora, em média, cinco dias no setor elétrico e tem um prazo máximo de três semanas.
Além de não existir um limite para o número de mudanças de comercializador, a ERSE defende que a introdução de um limite "prejudica os interesses económicos do consumidor", que deixaria de poder mudar sempre que encontre uma melhor oferta no mercado, e não incentiva a concorrência no mercado".
"A ERSE está atenta às práticas comerciais de mercado e aos argumentos utilizados nas vendas pelas empresas junto dos consumidores. Sempre que identifica situações que o justifiquem, emite alertas ou recomendações e dá início a processos de contraordenação quando encontra práticas violadoras da lei ou regulamentação. Recordamos a medida cautelar aplicada à EDP Comercial, em 2018, para a cessação da utilização em cartas de despedida de expressões suscetíveis de induzir em erro os consumidores." Neste momento, o regulador tem em instrução sete processos de contraordenação em matéria de práticas comerciais desleais.
Nos primeiros três meses deste ano mais de 120 mil clientes mudaram de comercializador de eletricidade no mercado liberalizado, diz a ERSE. Em 2018 foram mais de meio milhão a mudar, mostra o estudo "Energia em números 2019", publicado pela ADENE - Agência para a Energia, em parceria com a Direção-Geral de Energia e Geologia. Os 555 mil consumidores que no ano passado trocaram de fornecedor representam, no entanto, uma quebra de 19% face a 2017, quando quase 700 mil celebraram novos contratos. Contudo, em comparação com 2011, quando apenas 77 mil decidiram optar por uma empresa diferente, houve um grande salto.
No gás natural o cenário é idêntico: em março, 1,3% do total de clientes em mercado livre (quase 16 mil de um total de 1,2 milhões) optaram por outro fornecedor. Nesse mês, e seguindo a tendência de janeiro e fevereiro, a Iberdrola foi o comercializador que conseguiu uma maior captação de clientes (49% decidiram mudar, ou seja, cerca de oito mil clientes), seguindo-se a Endesa e a Galp, com ganhos líquidos de 27% e 23%, respetivamente.
No ano passado, o número total de mudanças no gás natural ultrapassou os 121 mil, mais 25,7% do que em 2017, ano em que 163 mil clientes mudaram de fornecedor de gás. Em 2011 este número ficou em 1730 mudanças de comercializador, o que face a 2018 representa um grande aumento em apenas sete anos.