A saga do 'monstro azul'

A poucos dias de completar 25 anos, Givanildo Vieira de Sousa poderia estar a cortar carne num talho de Campina Grande. No entanto, desde 2008 que justifica, no FC Porto, a incrível alcunha escolhida em criança.
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Uma inesperada exposição a uma descarga de raios gama transformou o doutor Bruce Banner no incrível Hulk, um indestrutível monstro verde dotado de tremendos poderes, que continua a povoar o imaginário dos apreciadores do fantástico mundo dos super-heróis criados pela Marvel. Giva- nildo teria pouco mais de três anos, quando, de comando de televisão em punho, após mais um episódio das aventuras do seu personagem predilecto, se dirigiu à mãe afirmando "eu quero ser como o Hulk". Anos mais tarde, já poderoso jogador de futebol, com poder para "subjugar" dezenas de milhares de adeptos no estádio do Dragão, arredando adversários do caminho e empurrando guarda-redes para o fundo da baliza juntamente com a bola, a mãe, dona Socorro, desvendou o segredo de tanta força: "Ele mamou até aos 3 anos. Quando mama fica muito forte, não é?"

Com contrato com o FC Porto até 2016, Hulk é, desde 2009, o futebolista com a cláusula de rescisão mais elevada em todo o mundo: 100 milhões de euros. E "incrívelmente" até há pouco tempo era praticamente desconhecido no seu próprio país. Único menino entre seis irmãs, Givanildo não teve infância fácil no estado natal de Paraíba e durante seis anos, enquanto sonhava com o futebol, cumpriu a rotina do talhante, ao lado do pai, no negócio familiar na Feira Central de Campina Grande. Ao contrário do herói da Marvel, Hulk tem memória apurada e ainda recorda as lágrimas vertidas no talho, num dia que começava às 3 da manhã. Aos dez anos, um amigo do pai apercebeu-se do seu domínio de bola e intercedeu no sentido de Givanildo ingressar na escolinha "Futebol e Companhia". Embora não tivesse sido paga mais que a primeira mensalidade, o talento de Givanildo bastou para fazer esquecer o dinheiro. Aos 13 entrou no centro de formação do Corinthians Alagoano, por onde passaram também os internacionais portugueses nascidos no Brasil Pepe e Deco e foi aí que o empresário Zé do Egíto encontrou o diamante que pretendeu acabar de lapidar em Portu- gal, mais precisamente no Vilano- vense, onde chegou, em 2001, aos 15 anos, com um passaporte turístico e de onde saiu, no ano seguinte, por impossibilidade de legalizar a permanência, já que era menor e o pai não tinha posses para o acompanhar. De regresso ao Barasil foi colocado no centro de formação do São Paulo, mas um desentendimento entre empresários ditou a saída, acabando por assinar o primeiro contrato profissional com o Vitória da Bahia (2003/2005), pelo qual actuou em apenas um jogo.

Sem lugar na equipa voltou a tentar a sorte fora de portas, desta vez no Kawasaki Frontale, do Japão, que o emprestou ao Consadole Sapporo (onde marcou 25 golos em 38 jogos) e depois ao Tokyo Verdy, onde os seus 44 golos em 55 jogos e o equipamento verde justificaram a reputação. No Japão conheceu a sua compatriota Iran, com quem constituiria família, antes de os especialistas em captação do FC Porto o assinalarem, levando o presidente Pinto da Costa a avançar com 5,5 milhões de euros para a compra de 40% do passe. A lesão de Tarik abriu-lhe caminho na equipa orientada por Jesualdo Ferreira e um golão de 25 metros frente ao Belenenses deu-lhe o coração dos adeptos. Em apenas uma temporada, o mundo (até o Brasil) ficou a conhecer o novo fenómeno futebolístico. Os 36 golos da última época aguçaram a cobiça dos grandes clubes europeus e apenas a habitual sagacidade de Pinto da Costa, com a cláusula de rescisão e a compra do resto do passe travaram a saída do "monstro"... que agora é azul.

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