A RTP e as touradas

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Cresci e vivi em Santarém uma grande parte da minha vida. É, na verdade, a minha terra. Desde cedo, comecei a ver touradas, picarias e largadas de touros. Eram sempre dias de festa que reuniam centenas de pessoas vindas de muitos pontos do país. Em dimensão muito mais reduzida, é certo, assisti também a várias festas com touros numa pequena praça que montavam no Verão, em Ourique, ao lado da casa dos meus avós, o que também motivava forte animação local. É um espectáculo que muito aprecio, sentimento este que é comungado por milhares de outros portugueses.

Vem isto a propósito da decisão tomada pelo Governo, no quadro da alteração do contrato de concessão celebrado com a RTP, de proibir a transmissão televisiva de touradas.

Trata-se de uma decisão que só pode merecer o meu total repúdio.

Desde logo, a RTP sempre transmitiu estes eventos, que, aliás, geram audiências muitíssimo razoáveis (os números que consultei apontam para 3 touradas transmitidas por ano pela RTP, com uma audiência média acima dos 400 mil telespectadores). Convenhamos, por outro lado, que 3 touradas por ano, não configura nenhum exagero...

Acresce que estamos diante de uma decisão que se inscreve numa linha de contínuo agravamento do sector da tauromaquia nacional, fruto de uma política de indisfarçável discriminação da festa brava: já não bastava continuarem proibidos os eventos taurinos, quando nos mesmos espaços (praças de touros) são permitidos espectáculos musicais que reúnem grande número de pessoas; já não era suficiente terem uma carga fiscal (IVA) mais penalizadora do que os outros espectáculos culturais; chegou agora a proibição das transmissões televisivas!...

E não se invoque o sempre ambíguo conceito de serviço público para justificar esta decisão. É que, durante décadas, as touradas foram transmitidas pela RTP sem qualquer dificuldade de subsunção nesse mesmíssimo conceito.

Não; não é nada disso que está aqui em causa. É algo muito mais simples e muito mais pernicioso: é a ditadura do gosto que impera e prolifera!

Prejudica-se todo um sector cultural e as centenas de pessoas que, pela idade ou por razões económicas, não se podem deslocar a uma praça de touros para presenciaram umas das grandes tradições nacionais.

E porquê? Porque há quem não goste de ver e, em vez de mudar de canal ou ir dar uma volta, quer impedir quem gosta de o fazer. É isto. E é deplorável.

Da RTP, enquanto concessionária de serviço público que todos nós pagamos, ano após ano, esperava-se e exige-se respeito pela pluralidade de opiniões e imparcialidade nas decisões editoriais.

Infelizmente, a RTP está a ser instrumentalizada e, como sempre sucede nestes casos, presta um mau serviço ao país.

Advogado e vice-presidente do CDS-PP

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