A RTP e a promoção das artes e da cultura
Passo a passo, peça a peça, a RTP vai reencontrando a sua matriz de serviço público. Nos últimos tempos, a estação voltou a afirmar-se como o destino natural das iniciativas culturais em Portugal. O nosso propósito é exatamente esse: ser uma janela aberta para a produção criativa nacional. Parece óbvio, apesar de não ter sido sempre assim. Mas agora as artes sabem que são mesmo bem-vindas, os agentes culturais sabem que os consideramos e os programadores sabem onde obter visibilidade. Faz toda a diferença.
Somos cada vez mais o parceiro de media escolhido pelas instituições culturais, realizando programações especiais e amplas coberturas de acontecimentos mar- cantes, como os 60 anos da Gulbenkian e o Serralves em Festa, esse grande evento no Porto; cobrimos de perto o arranque do MAAT/Fundação EDP, associámo-nos desde logo à primeira edição do ARCO Lisboa e estamos sempre ligados ao CCB, não apenas nos Dias da Música mas na enérgica Garagem Sul/Exposições de Arquitetura. Trabalhamos lado a lado com a EGEAC em Lisboa, temos incrementado as transmissões do Festival ao Largo, somos propulsores das imparáveis ações do Museu Nacional de Arte Antiga e assim por diante, numa lista longa e maravilhosa de parcerias com instituições culturais, estabelecidas e emergentes, na capital e por todo o país.
Em emissão os conteúdos culturais ganham cada vez maior destaque, nos espaços informativos e em magazines dedicados. As nossas reportagens promovem não só os artistas aí tratados, mas as instituições que os albergam, muitas destas descentralizadas, como a Coleção Cachola em Elvas, o CAV em Coimbra, o Fórum das Artes Eugénio de Almeida em Évora, entre tantos outros casos. Na programação há teatro, há ópera, há dança contemporânea. Noutra vertente, convidámos artistas plásticos para criarem peças de grafismo para a nossa antena, uma novidade absoluta, tendo começado com o VHILS, numa prática que será continuada regularmente por outros nomes. E é já um êxito a aposta na edição dos livros RTP, recriando uma iniciativa dos anos 1970 e colocando de novo a RTP assumidamente no papel de promotor da língua e da leitura.
Nas indústrias criativas, o ritmo não é distinto, fomos fundadores entusiastas do NewsMuseum lançado em Sintra neste ano, conseguimos trazer a ModaLisboa para a RTP já a partir desta edição de outono, teremos em breve a Catarina Portas a passear pelas marcas históricas portuguesas como só ela sabe, numa série de programas para a RTP1 e a RTP Internacional.
Por falar na esfera internacional, temos bem presente o papel decisivo que nos cabe na afirmação externa das atividades culturais e por isso mesmo insistimos em estar sempre lá, nas bienais de arte, nos festivais de cinema, nas grandes exposições além-fronteiras, como no caso de Amadeo em Paris, amplamente potenciada por nós neste ano, entre múltiplos exemplos.
Outro campo que escolhemos como prioritário é o apoio ao cinema e à produção independente. Para nós não se trata de uma obrigação, mas sim de uma convicção. A RTP deve fomentar a indústria cinematográfica, deve viabilizar projetos arrojados, deve contribuir para o desenvolvimento estruturado de uma fileira audiovisual. Nesse sentido, acelerámos o ritmo de coproduções, lançámos consultas abertas regulares, aumentámos a divulgação em antena de filmes nas salas de cinema e estamos a trabalhar cada vez mais de perto com as instituições públicas desta área e com as associações de produtores. Incrementámos em cerca de 30% o valor investido nestes projetos face às práticas anteriores, atingindo o patamar de 13 milhões de euros por ano, montante que é inclusivamente superior às nossas obrigações legais. Lá está, o cinema e a ficção de qualidade para nós não são um fardo, são apostas. E mantemos um forte compromisso para com a produção de documentários, esse género tão nobre, encomendando e exibindo mais de 90% dos documentários portugueses.
Conheço bem a história da RTP nas últimas décadas; conheço bem o panorama das artes e das instituições culturais do país; e é um gosto ver a RTP tão próxima da criatividade nacional como jamais esteve, promovendo e dando a conhecer os nossos artistas, o nosso património, o nosso talento, em Portugal e para o mundo inteiro. A isto chamamos prestar serviço público, ser relevante naquilo que interessa e cumprir o dever da diferenciação. O verdadeiro desenvolvimento de Portugal implica colocar a cultura e o conhecimento no topo da agenda. Na RTP, à nossa escala, estamos a fazer por isso.
*) Presidente do Conselho de Administração da RTP