A revolução que assustou a China mas que ajudou a integrar Macau

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Memórias. O primeiro governador pós-25 de Abril, Garcia Leandro, prepara livro de memórias

O general afirma que Portugal deve orgulhar-se do território que entregou

A Revolução do 25 de Abril percorreu milhares de quilómetros e instalou-se naquele território administrado pelos portugueses. A comunidade lusa dividiu-se: um choque forte entre os mais conservadores, que queriam manter Macau nas mãos de Portugal; e os progressistas, que embalados pela descolonização do Ultramar, queriam entregar o território, sem apelo nem agravo, à República Popular da China. Os chineses assustaram-se. O regime comunista de Mao Tsé-Tung mostrava-se longe de estar preparado para receber uma economia de mercado aberta às virtudes e vícios do Ocidente. Em 74, a bolsa de Hong Kong também estremeceu perante essa possibilidade.

Foi este clima explosivo que o então coronel, hoje general, Garcia Leandro encontrou na missão que lhe fora confiada de governar Macau no pós-revolução. Instalou-se com a família, mulher e duas filhas, uma de seis outra de três anos - "uma terceira foi concebida lá!", diz -, e criou as condições de estabilidade para que "o território prosperasse até 20 de Dezembro de 1999". Altura que foi entregue tranquilamente aos cuidados da China.

"Se Macau tivesse sido engolido em 74, teria ficado pobre e fraco. Pelo contrário, entregámos em 1999 um território com notáveis infra-estruturas e excelente situação económica. É um orgulho para a nossa história", diz Garcia Leandro, que no próximo ano conta editar as memória dos 51 meses que ali viveu (entre 1974 e 79), num livro que fala de "Macau, os anos da grande mudança".

Desses tempos retém, entre outras coisas, um "excelente" relacionamento com as autoridades chinesas, que o receberam mesmo antes do protocolo que instituiu relações diplomáticas entre a China e Portugal , assinado em Paris a 8 de Fevereiro de 1979. Retém ainda os traços da sociedade macaense, uma miscelânea de culturas que a tornaram única. "Macau é um caso tão especial de mistura de populações - chinesa, filipina, portuguesa, etc. - ao longo dos séculos que merecia ser preservada como uma peça de valor para a humanidade."

O general reconhece que o problema do atropelo aos direitos humanos é o grande mancha na reputação da República Popular que gere Macau, mas acredita ser impossível manter por muito mais tempo a conjugação entre um "regime autoritário e uma economia liberal à conquista do mundo". Na sua opinião, a realização dos Jogos Olímpicos também ajuda a China a confrontar-se com o dilema dos direitos humanos.

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