A ​​​​​​​recuperaçãozinha da TAPzinha de todos os portugueses

Publicado a
Atualizado a

Foi com otimismo que o ministro que sonhava renacionalizar o país adiantou em maio os seus objetivos para a companhia de bandeira, a única que conseguiu fazer regressar à esfera do Estado quando a pandemia se abateu sobre o negócio da aviação, deixando-o à beira da morte. Nada muito ambicioso, apesar das sucessivas injeções de dinheiro público na transportadora, que somarão em breve 3,2 mil milhões de euros. O plano passa por reduzir perdas devagarinho, de forma a chegar ao verde lá para 2025 e Bruxelas não se arrepender de ter concordado em deixá-lo salvar a companhia que por uns meses de boa memória chegou a ser problema dos seus donos privados, antes de tornar a ser encargo para todos os portugueses.

Claro que ajudar a transportadora implica contrapartidas, incluindo a maior redução de pessoal alguma vez vista e cortes significativos nos salários dos que por lá ficaram, mas também menos espaço e menos voos no hub da Portela, entre outras exigências de emagrecimento à força, aceites e subscritas por Pedro Nuno Santos. A troika não faria melhor. Ou talvez fizesse: apesar da contestação bem-sucedida a algumas das medidas então impostas ao Portugal resgatado da falência, nunca chegámos a ter de reintegrar trabalhadores dispensados ou de pagar balúrdios em indemnizações por despedimentos mal feitos, como aconteceu na TAP.

No final deste ano, dizem as regras, as contas da companhia de bandeira não poderão exceder os 54 milhões negativos. O que significa melhorar tanto quanto o boost do desconfinamento permitiu recuperar até junho. E se não conseguir? Ninguém sabe. E o governo nada diz, que quanto menos o povo souber sobre o assunto, melhor.

Vinda de um prejuízo de mais de 2 mil milhões de euros e com perdas nas receitas que superavam os 11 mil milhões, o grupo Air France-KLM chegou ao fim de junho com lucros de 324 milhões de euros. A IAG, dona da British Airways e da espanhola Iberia, ultrapassou os 290 milhões de lucros no segundo trimestre, que comparam com os mil milhões negativos registados no mesmo período de 2021. O grupo Lufthansa reduziu as perdas em 82% face a junho do ano passado, chegando já a lucros de 259 milhões de euros neste trimestre, por comparação com os 756 milhões de buraco em que se encontrava um ano antes. E a TAP?

Bem, dos cerca de 500 milhões negativos que atingira em junho de 2021, a TAP conseguiu reduzir prejuízos para "apenas" 202 milhões negativos. Um nível de perdas que é quase o dobro das que registava antes de rebentar a pandemia. Se conseguirá fazer a recuperaçãozinha que Pedro Nuno Santos planeou, vai depender...

Vai depender da incerteza geopolítica, vai depender da valorização do dólar face ao euro, vai depender da inflação e da escalada de preços do jet fuel, tudo à boleia da guerra na Ucrânia. Mas também vai depender dos resultados das idiossincrasias nacionais, que vão pesar, como é costume, no bolso já saqueado dos contribuintes - e que incluem os constrangimentos de um aeroporto de Lisboa esgotado e com alternativa por decidir e as indemnizações milionárias que a TAP terá de pagar a pilotos (pelo menos 50 milhões, decretados pelo Supremo Tribunal) e a passageiros que viram os seus voos cancelados nos últimos tempos (mais de 500, dizem os sindicatos).

Que bom é ter uma companhia aérea nas mãos do Estado!

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt