A quadratura do círculo e as novas eleições a 26 de junho
Termina hoje, ao fim do dia, o prazo para Espanha encontrar uma solução de governo. A menos que haja um volte-face de última hora, digno dos mais inverosímeis filmes de suspense, o destino está traçado. O país voltará às urnas a 26 de junho, para tentar desbloquear o impasse político criado pelo resultado eleitoral de 20 de dezembro.
Depois de quatro meses de negociações falhadas, o que se pode esperar nas novas eleições? No essencial, os eleitores espanhóis não vão alterar substancialmente as suas escolhas. De acordo com a sondagem da Metroscopia publicada ontem no El País, o cenário que resultará da nova ida às urnas não será muito diferente. O Partido Popular (PP) de Mariano Rajoy continua a ser a força política mais votada, com 29%, o que representa uma subida de 0,3 pontos percentuais. No segundo lugar, caindo 1,7 pontos face a dezembro, surge o PSOE de Pedro Sánchez, com 20,3%. O Podemos de Pablo Iglesias mantém o terceiro lugar, mas é o partido que mais desce nas intenções de voto, recuando de 20,7% para 18,1%. Ainda assim, para Iglesias, mais preocupante do que a queda de 2,6 pontos é a forma como vê o Ciudadanos aproximar-se. O partido de Rivera consegue 16,9%, depois dos 13,9% que obteve em dezembro.
Quem também sobe é a abstenção. Segundo o El País, 70% dos eleitores vão marcar presença nas mesas de voto, menos 3,2 pontos do que nas últimas eleições.
E depois de junho?
Contas feitas, PSOE e Podemos são castigados pelos eleitores e o Ciudadanos é recompensado. Já os seguidores de Rajoy mantêm-se fiéis e veem o PP ganhar de forma mais folgada. Apesar destas alterações, se os resultados das eleições de 26 de junho forem aqueles que a sondagem do El País vaticina, Espanha voltará a ver-se numa situação de impasse político. PSOE e Ciudadanos, que chegaram a assinar um acordo, somam apenas 37,2% e continuam a necessitar do Podemos. Da mesma forma, o PP terá sempre necessidade de coligar-se com uma ou mais forças políticas para governar.
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Todos querem abater Rajoy, mas, por outro lado, Iglesias dificilmente se entenderá com Rivera e com Sánchez. Um dos principais grãos de areia na engrenagem de uma hipotética aliança entre o PSOE e o Podemos é a posição do partido de Iglesias sobre o direito à autodeterminação das regiões espanholas.
Numa entrevista recente ao DN, Guillermo Fernández Vara, presidente do governo da Extremadura - a região onde o PSOE obteve mais votos -, garantiu que a linha vermelha para os socialistas é a defesa da unidade de Espanha. "A 28 de dezembro houve uma reunião do comité central do partido em que decidimos que nunca governaríamos com o apoio, por ação ou omissão, de uma força que defendesse o independentismo", sublinhou o socialista.
Perante as previsões eleitorais, a coligação mais estável continua a ser um bloco central entre o PP e o PSOE. Essa hipótese foi ontem abordada por Sánchez, em entrevista ao El Mundo, e também por Rajoy, em entrevista ao La Razón.
O ainda presidente do governo volta a afirmar que essa seria a solução ideal e manifesta-se esperançoso: "Estou convencido de que esse governo acabará por concretizar-se porque é aquele de que Espanha necessita". Sánchez é que não está pelos ajustes. "Temos de tirar Espanha do congelador e isso implica pôr um fim ao executivo de Rajoy".
Na entrevista ao El Mundo o socialista vai mais longe. Questionado sobre se descarta em absoluto uma coligação com o PP, Sánchez responde: "Sim. Não é solução. O PSOE e o PP são dois projetos antagónicos, quer no formato, quer nas questões de fundo".
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O ping pong continua. Rajoy afirma que "não é possível um governo sério e estável sem o PP" e acredita que, depois do novo ato eleitoral, a sua investidura não será vetada. Por seu turno, Sánchez aponta o líder do PP como o alvo a abater e como o principal responsável pelo impasse político: "Rajoy defraudou os eleitores e bloqueou qualquer tipo de solução. Renunciou a ser investido desculpando-se com uma mentira, ao dizer que eu já tinha um acordo assinado com o Podemos. É uma pessoa que acha que os problemas se resolvem virando-lhes as costas".
Será difícil encontrar uma solução se os líderes mantiverem o discurso e as posições dos últimos quatro meses. Talvez apercebendo-se disso mesmo e numa tentativa de inverter a imagem de inflexibilidade que passou durante os últimos quatro meses - é o líder com pior avaliação na sondagem do El País -, Iglesias afirmou ontem, nas celebrações do 1.º de Maio, que "é preciso baixar o tom" e que não vê o PSOE como um adversário, mas sim como "um aliado".
Em cima da mesa está ainda a possibilidade de o Podemos avançar em coligação com a Esquerda Unida (IU). De acordo com o estudo eleitoral da Metroscopia, o partido de Alberto Garzón consegue 6,6%, face aos 3,7% que obteve em dezembro. Numa soma simples de percentagens, Podemos e IU, coligados, conseguiriam 24,7%, mais do que os 20,3% do PSOE. Esta ultrapassagem aos socialistas alteraria em muito a força das posições negociais de Sánchez e Iglesias.
Será possível a quadratura do círculo em Espanha?