A Psicologia, a evidência científica e os cristais

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Uma jovem seguida em Psicoterapia interrompeu o processo durante alguns meses, regressando pouco depois com o objetivo de o retomar. Dizia ela: "Olhar para tudo o que se passava dentro de mim estava a ser muito difícil e preferi agarrar-me a um cristal, acreditando que os meus problemas iriam resolver-se rapidamente, quase por magia... Vejo agora que não é bem assim."

Falamos aqui, a título de exemplo, de uma jovem para quem o processo psicoterapêutico estava a ser sentido como muito exigente e, por vezes até, doloroso. Uma jovem com diversas áreas problemáticas que pediu ajuda e que, quando confrontada com um processo de introspeção e de mudança necessariamente desafiantes, optou por seguir outro caminho.

Não estão em causa os cristais ou qualquer outra abordagem que esteja disponível, mas sim a importância em clarificar e ajudar todas as pessoas a distinguir o que é a Psicologia e o que são outras ofertas que o mercado apresenta. Por outras palavras, que para todos fiquem claras as diferenças e também os riscos que se correm ao seguir um ou outro caminho.

A Ordem dos Psicólogos Portugueses lançou há dias a campanha Psicologia, ciência com evidência, sublinhando isso mesmo - não estão em causa as diversas ofertas, mas sim a necessidade de informar todas as pessoas, para que os seus processos de tomada de decisão sejam informados e conscientes.

Quando se afirma que a Psicologia é uma ciência baseada em evidência, isso significa que os diversos modelos teóricos e respetivas estratégias de avaliação e intervenção têm vindo a ser testados ao longo dos anos, com amostras representativas da população, comparando os seus efeitos com os de outras abordagens. Resultados que, analisados de forma objetiva, permitem então concluir sobre a eficácia da intervenção, a curto, médio ou longo prazo. Seja uma intervenção mais remediativa, focada na doença e na perturbação, seja mais preventiva, focada no aumento de conhecimentos e no desenvolvimento de competências. Significa ainda que os psicólogos têm necessariamente de passar por um processo de formação, treino e supervisão, ao longo de diversos anos, e que não basta chamarem a si a capacidade de resolver este ou aquele problema. Empatia, capacidades de comunicação e facilidade em trabalhar com pessoas são competências muito importantes, mas não suficientes para se ser psicólogo.

Neste contexto, a palavra de ordem é informar. O que é a ciência psicológica e o que não é, e quais os riscos que se correm quando se decide seguir por um caminho alternativo. Sejam cristais ou qualquer outro.

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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