A propósito de Uma Varanda Sobre Tóquio
Portugal celebrará os seus 900 anos como país em 2043, o mesmo ano em que se assinalarão 500 anos da nossa chegada ao Japão. As duas datas, embora não pareça à primeira vista, estão intimamente ligadas. Foi a aventura dos Descobrimentos que deu relevo global ao pequeno país do Ocidente ibérico criado por D. Afonso Henriques. E foi o Japão o ponto extremo dessa aventura marítima, em que a descoberta foi mútua, pois se os portugueses foram os primeiros europeus a chegar ao arquipélago nipónico, também os seus habitantes souberam nesse momento da existência de um país longínquo, no extremo oposto da Eurásia.
Quem desembarcou em 1543 em Tanegashima foram mercadores, não conquistadores. E mesmo que os portugueses tenham introduzido a espingarda nas ilhas, esta foi copiada e fabricada pelos próprios japoneses para as batalhas da sua guerra civil, que parecia ser infindável até o clã dos Tokugawa se impor. E a violência depois contra os cristãos teve - apesar do martírio de vários padres portugueses - como principais alvos os próprios japoneses convertidos. Sobretudo, foi tudo há muito tempo, o que permite hoje valorizar-se o positivo e desvalorizar-se o negativo. E isso faz com que os japoneses tenham boa ideia destes ocidentais que de tão longe vieram até às suas ilhas, e os portugueses tenham boa ideia destes japoneses, lá longe, com quem entrámos em contacto, trazendo-lhes novidades de todo o género, até tecnológicas, como a arma de fogo.
David Lopes descobriu o Japão no século XXI, a trabalhar para uma grande empresa japonesa. O seu livro Uma Varanda Sobre Tóquio é tanto uma homenagem ao país que o acolheu durante dois anos, como uma declaração de amor a uma cultura que o fascina. Mas quando diz, na conversa que hoje publicamos no DN, que o seu patrão japonês tem uma grande coleção de CD de fados, é evidente que também no arquipélago há quem nos homenageie como país e se sinta fascinado pela cultura portuguesa. Comecemos a contagem decrescente para 2043. Há razões para celebrar Portugal, há razões para celebrar o relacionamento entre Portugal e o Japão.
Diretor interino do Diário de Notícias