À procura de Emanuela Orlandi. Ossários no Vaticano são analisados este sábado
Este sábado, continuam no Vaticano as buscas pela desaparecida Emanuela Orlandi. Os especialistas forenses vão voltar a analisar os dois ossários - pequenas divisões onde os mortos eram depositados - encontrados no cemitério do Colégio Pontífico do Vaticano, no passado dia 11.
Nesse dia, foram abertos os "Túmulos do Anjo", onde se acreditava estarem enterradas as princesas alemãs Sophie von Hohenlohe, que morreu em 1836, e Carlota Federica de Mecklenburg, que morreu em 1840. Esperava-se que a operação pudesse demorar dias ou semanas, mas rapidamente se percebeu que os caixões estavam vazios - o que não só não resolveu o mistério de Emanuela como abriu novos mistérios. O Vaticano acredita que os ossos das princesas possam ter sido removidos durante os trabalhos realizados no local nos anos de 1960 e 1970.
No entanto, foi possível identificar dois ossários, localizados debaixo do solo, numa área dentro do Colégio Pontifício Alemão, adjacente ao cemitério, e que está fechada por um alçapão. Este sábado, os especialistas em ciência forense irão analisar os ossos que encontrarem e irão datá-los - uma operação que demora apenas cinco horas e que permitirá selecionar alguns dos ossos para uma identificação formal de ADN, que demorará um pouco mais.
Um especialista, escolhido pela família Orlandi, estará presente. Também é provável que familiares das duas princesas alemãs, Sophie von Hohenlohe e Charlotte Federica of Mecklenburg, falecidas no século XIX, acompanhem os trabalhos deste sábado, embora esta informação não esteja confirmada por nenhuma fonte oficial.
A 22 de junho de 1983, Emanuela Orlandi, de 15 anos, filha de um funcionário do Vaticano, foi à sua aula de flauta. No regresso a casa, foi vista pela última vez numa paragem de autocarro no centro de Roma. E depois desapareceu. Nunca mais ninguém soube nada dela. Terá fugido?, sido raptada?, morta?, então onde está o seu corpo?
São muitas as especulações em volta deste caso. O desaparecimento tem sido associado a conspirações entre bispos, padres e altos dirigentes da Cúria Romana, a agentes búlgaros, à máfia siciliana, à KGB e até à CIA. Em 2008, surgiram suspeitas de que a rapariga teria sido sequestrada, assassinada e enterrada sob ordens do arcebispo Paul Marcinkus, o antigo presidente do banco do Vaticano. Embora o tenham defendido, a Igreja enviou-o para uma paróquia no Arizona, onde ficou até morrer (em 2006).
Numa entrevista de mais de duas horas, no programa Chi l'ha visto? ("Quem a viu"?), Sabina Minardi, amante de Enrico De Pedis, chefe da máfia siciliana morto em 1990, revelou uma razão para que Marcinkus tivesse ordenado o rapto da jovem: o seu pai, Ercole, "terá visto documentos que não devia ter visto", sendo preciso assegurar o seu silêncio. Sabrina revelou ainda que De Pedis lhe contou tudo isto quando estava sob efeito da cocaína. Em 2012, as autoridades italianas abriram o túmulo de De Pedis, mas não encontraram vestígios de Orlandi.
O irmão de Emanuela, Pietro, atualmente com mais de 60 anos, nunca desistiu de procurar a irmã. Até que, finalmente, em março deste ano a família recebe uma pista anónima: uma carta com uma fotografia que mostrava um anjo em cima de um túmulo no Cemitério Teutónico do Vaticano e que dizia "olhem para aponta o anjo", ou seja, os túmulos das duas princesas. A família voltou a interpelar o Vaticano e desta vez o tribunal deu autorização para abrir os túmulos.
O Cemitério Teutónico, no Vaticano, fica localizado no local original do circo do Imperador Nero, escondido atrás de muros altos, por trás da Basílica de São Pedro. Os turistas não têm autorização para entrar no cemitério, sendo barrados pelo elemento da Guarda Suíça que está sempre ao portão. O cemitério acolhe geralmente os restos mortais dos membros alemães das instituições católicas.