Qual é o principal problema do sistema informático do Serviço Nacional de Saúde? A prescrição eletrónica médica (PEM). Esta é a opinião de metade dos médicos que responderam a um inquérito online do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e que vem confirmar uma denúncia da respetiva Ordem: "A prescrição médica é um inferno", disse ao DN o bastonário, José Manuel Silva..Até agora, os resultados do inquérito, lançado pelo SIM no final de agosto, mostram ainda que 90% dos inquiridos (600 médicos) admitiram que as falhas implicaram atrasos na prestação de cuidados de saúde e 37% consideraram que tal colocou em risco a segurança do utente. A maioria das falhas reportadas (39%) tiveram uma duração superior a quatro horas. "As inúmeras falhas informáticas que se têm verificado conduzem a um intolerável aumento do risco de erro médico", afirmava o sindicato no final do mês passado, quando colocou à disposição minutas de declaração/protesto para os médicos preencherem dando conta dos problemas e responsabilizarem os órgãos de gestão das unidades de saúde.."Há múltiplas avarias, desde os próprios computadores ao programa da PEM, passando pela rede", explicou José Manuel Silva, considerando que a situação está a causar transtornos aos médicos e aos utentes. Os primeiros "não têm acesso ao histórico de medicação do doente". Estes, por sua vez, acabam por ter consultas intermináveis à espera de que o médico consiga aceder ao sistema. "Já disseram que a rede não suporta tantos utilizadores", continuou o bastonário, afirmando que muitos médicos estão a voltar ao passado, às receitas manuais. "Mas estas, pela ausência de acesso ao histórico, só podem ser de curta duração", precisou José Manuel Silva..Já no mês passado, a Ordem dos Médicos denunciou, em comunicado, o caos informático da PEM: "As sucessivas falhas e erros da PEM colocam em causa a segurança dos doentes no ato da emissão e renovação de receituário e, muitas vezes, impedem a sua dispensa na farmácia, obrigado os doentes ou os seus familiares a efetuarem mais deslocações e a perder tempo e dinheiro.".Para a Ordem, "é inacreditável o número de dias em que a PEM não funciona convenientemente, provocando enormes perdas de tempo e contribuindo para a desmotivação e o desnecessário cansaço dos médicos". No mesmo comunicado, a Ordem afirmou que "os médicos apoiam a informatização da saúde, mas exigem que seja feita por gente competente e empenhada", acrescentando que os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), responsável pela aplicação da PEM, não fazem "ideia do desastre que representa para uma consulta médica não ter acesso à informação anterior do doente"..Em setembro o sistema da receita eletrónica teve graves problemas, por falta de capacidade dos servidores - problema entretanto resolvido pela SPMS -, levando a que muitos utentes não tenham conseguido aceder às receitas e aviar os medicamentos na hora. "Mas 5% dos utentes, por dia, não conseguiram levantar os medicamentos na hora porque só tinham sms. Tiveram de regressar mais tarde à farmácia", disse na altura Miguel Lança, diretor dos sistemas de informação da Associação Nacional de Farmácias..Nos centros de saúde os problemas são vários. "É uma angústia porque nunca sabemos qual será a crise do dia. Os computadores estão obsoletos, os ratos não funcionam, o sistema fica lento e vai abaixo, tenho de tirar e pôr o cartão de identificação porque não reconhece. Numa situação destas não consigo passar a receita. Tenho de pedir ao utente que volte depois ou envio-a por sms. É urgente renovar o parque informático", afirmou, na altura ao DN, Rui Nogueira, presidente da Associação dos Médicos de Família..Na última comissão parlamentar de Saúde, o ministro Adalberto Campos Fernandes anunciou a distribuição de mais de dez mil novos computadores nos centros de saúde das regiões de Lisboa e Vale do Tejo e Norte, além do reforço das redes de telecomunicações.