As cimeiras do G20 foram criadas para compensar os fracassos das Nações Unidas. Depois da cimeira da semana passada na Argentina, sabemos que o G20 dificilmente produzirá milagres. De facto, as pessoas sentadas à mesa de Buenos Aires são em grande parte responsáveis pelo colapso da ordem internacional. Roger Boyes, do Times de Londres, comparou a cimeira aos filmes de Francis Ford Coppola sobre o clã Corleone: "De um lado da mesa em Buenos Aires, um líder que diz que não cometeu assassínio, do outro, um líder que diz que sim. Há um presidente que acabou de ordenar o ataque a navios de um vizinho, o que equivale a um ato de guerra. Espalhados pela sala, uma dúzia de outros estadistas em conflito sobre fronteiras, dinheiro e influência. E a olhar um para o outro, os dois arquirrivais pretendentes ao lugar de capo dei capi, os presidentes dos Estados Unidos e da China. Apesar das aparências, a maioria dos participantes da cimeira do G20 do fim de semana não enterrou Don Corleone, mas enterrou a ordem liberal.".Nas livrarias e na Amazon, podemos comprar muitos livros sobre a ordem internacional, a cooperação global, a segurança regional e a integração europeia. No entanto, esses livros descrevem um mundo que já não é o que temos. Vivemos agora num mundo de caos, medo, agressão e ilegalidade. A União Europeia está a desmoronar-se. As Nações Unidas são impotentes e estão dormentes..Não sabemos como lidar com esta nova situação. Faltam-nos as teorias ou até mesmo as narrativas para descrever, quanto mais explicar, a situação atual. Temos inúmeras teorias da integração europeia, mas nenhuma da desintegração europeia. Temos teorias da hegemonia internacional ou do equilíbrio de poder, mas não temos uma teoria do caos internacional. No entanto, a vida continua e precisamos de lidar com a anarquia subsequente. Vamos identificar as manifestações e as causas do caos atual e depois falar sobre possíveis terapias..Manifestações do caos.Já não partilhamos as normas comuns da ordem internacional. Após o fim da Guerra Fria, a maioria dos atores endossou o Estado de direito, o livre comércio, as eleições democráticas e até mesmo os direitos humanos. Essas normas foram muitas vezes comprometidas na prática, mas a sua violação ainda era considerada uma aberração. Hoje, cada vez mais atores questionam a ordem liberal e as normas a ela associadas. Estados assassinam os seus adversários políticos em consulados, cafés ou no deserto com a ajuda de drones, sem vergonha e legitimação. Ciberataques são lançados diariamente. A interferência externa nas eleições democráticas tornou-se notória. Estas não são exceções às regras estabelecidas, este é o novo normal. A América, que costumava ser o líder do "mundo livre", tem agora um presidente que parece não acreditar em livre comércio, direito internacional, direitos humanos ou eleições justas. Viktor Orbán ou Recep Tayyip Erdoğan são atores menores quando comparados com Donald Trump..Já não sabemos quem é um amigo e quem é um inimigo. A América é nossa aliada atualmente? Ela ajuda ou atrapalha a nossa agenda ambiental? Ajuda ou atrapalha as nossas políticas em relação à Rússia ou ao Irão? A UE representa as nossas esperanças ou os nossos pesadelos? É difícil encontrar um país onde os cidadãos possam dar uma resposta clara e comum a essas questões. As opiniões sobre a Rússia estão ainda mais divididas. A China é geralmente considerada uma ameaça, mas a maioria dos líderes mundiais está em competição para cair nas suas boas graças..Todas as instituições internacionais estão em crise. Essas instituições deveriam estimular a cooperação e prevenir conflitos. Deveriam criar regras comummente acordadas de conduta internacional, procedimentos de tomadas de decisão conjuntas e penalizar os parasitas. No entanto, as instituições praticamente não estão a desempenhar essas importantes funções neste momento. Elas estão cada vez mais ineficientes ou totalmente paralisadas. As suas decisões estão a ser ignoradas. Se um político quer resolver um conflito em curso, não viaja para Nova Iorque, onde está a sede das Nações Unidas, mas para Washington DC e a sua famosa Casa Branca. Aqueles que querem resolver qualquer coisa importante na Europa viajam para Berlim em vez de Bruxelas..Estamos também em estado de guerra, no entanto é uma guerra híbrida. Se considerarmos o cocktail de terrorismo, guerras comerciais, ciberataques e expedições militares tradicionais nos chamados Estados "falhados", então é difícil afirmar que vivemos em paz atualmente. Estados de emergência foram decretados recentemente mesmo em países ocidentais como França e Espanha. O governo espanhol de Mariano Rajoy deteve vários jornalistas e humoristas por violarem a legislação antiterrorista. Não só o governo americano, mas também o austríaco e o húngaro estão a enviar soldados para proteger as fronteiras contra migrantes desarmados. Críticos e denunciantes estão a ser silenciados, perseguidos ou até mesmo mortos. Pensemos em Jamal Khashoggi, da Arábia Saudita, Caruana Galizia, de Malta, ou Jan Kuciak, da Eslováquia..A lei da selva não é o mesmo que o Estado de direito. Na selva, os predadores sentem-se em casa. Os cidadãos comuns não só não estão protegidos contra o uso arbitrário da força como também não o estão contra a exploração financeira ou o uso indevido de dados privados para fins comerciais. Veja-se o Facebook ou algumas companhias de seguros..Causas e remédios.Os populistas e a globalização são geralmente culpados por este lastimável estado de coisas. No entanto, a globalização não caiu do céu. Nem veio da China. A globalização resulta de políticas que liberalizaram o comércio, a comunicação, o trabalho e a concorrência. Essas políticas foram defendidas pelos principais governos ocidentais, não pelo presidente Xi Jinping. Pode-se acusar a China de muitas coisas, mas não de abraçar a liberalização, a desregulamentação e a privatização em larga escala..Não sou um defensor dos populistas, mas estes dificilmente podem ser culpados pela desigualdade, pelos paraísos fiscais e pelas falhas de governança das últimas três décadas. Eles simplesmente não estavam no comando de nenhum governo durante este período. Hoje, os populistas prosperam porque os liberais embarcaram em políticas económicas, migratórias e externas equivocadas. Não se pode sequer culpar os populistas pela atual confusão dentro da UE. Afinal, a UE está a ser gerida por pessoas tão simpáticas como Macron e Merkel, com uma pequena ajuda de Juncker, Tusk e Tajani. Todos eles se veem como genuínos liberais..Não podemos culpar apenas os políticos pelo caos que se seguiu, esse caos também está a ser causado pelos atores institucionais dominantes. Os Estados-nação são aqui os principais suspeitos porque usaram e abusaram dos seus poderes de maneira prejudicial à ordem, estabilidade e desenvolvimento sustentável. Nos últimos anos, os Estados estavam mais interessados em espiar os seus cidadãos do que em taxar e regular empresas privadas, especialmente as grandes. Eles tornaram-se Estados de mercado com identidades duvidosas e credenciais democráticas. Como os mercados são em grande parte transnacionais, eles têm pouco tempo para a nostalgia nacional. A busca competitiva por lucros no mercado também está em desacordo com as demandas democráticas por solidariedade e justiça. Estados que prezam os mercados estão mais ansiosos para servir as empresas do que os trabalhadores. Eles estão mais ansiosos para recompensar as empresas transnacionais do que os eleitorados nacionais. Isso ficou claro depois da crise financeira de 2008, quando os cidadãos comuns foram obrigados a cobrir os desvarios de banqueiros irresponsáveis. Os Estados também tiveram um desempenho fraco na arena política internacional, eles nunca abandonaram o seu controlo sobre organismos internacionais como a UE ou a ONU. Eles deram a essas organizações cada vez mais tarefas sem autonomia ou recursos adequados. Quando as coisas começaram a dar errado nos campos de segurança ou migração, os Estados reclamaram que pouco estava a ser feito por Nova Iorque ou Bruxelas. Na realidade, nem a ONU nem a UE jamais poderiam agir como desejavam, porque os Estados são seus senhores..A ironia da situação atual é que aqueles que causaram o caos estão a ser encarregados de restaurar a ordem. Salvini glorifica o Estado-nação e Renzi quer alinhar-se com um ex-banqueiro cujas políticas neoliberais acabaram de causar protestos em massa em toda a França. Na Polónia, um lado quer marchar orgulhosamente sob a bandeira nacional, e outro quer que Donald Tusk regresse de Bruxelas e restaure o seu reinado (neoliberal). No Reino Unido, os partidários do Brexit querem fortalecer o estado soberano, enquanto os partidários da permanência querem voltar a juntar-se à Europa liberal de Tajani, Tusk e Juncker. Apelos para uma terceira ou quarta via caem em orelhas moucas no atual ambiente político tribal..No entanto, a partir da minha análise, surge um catálogo diferente de medidas destinadas a reduzir o caos. Primeiro, precisamos de restaurar o equilíbrio entre liberdade e igualdade; sem isso, os populistas continuarão a prosperar e a criar confusão..Em segundo lugar, precisamos de restaurar o equilíbrio entre as esferas privada e pública, porque a primeira não restaurará a ordem e a estabilidade. A continuação da hegemonia neoliberal implica mais erosão, não a reconstrução da esfera pública..Em terceiro lugar, precisamos de criar instituições públicas fortes capazes de operar abaixo e acima do nível do Estado. Os Estados-nação já não podem reivindicar o monopólio de representação do povo. As autoridades locais são, por natureza, mais próximas dos cidadãos, e as autoridades transnacionais lidam melhor do que os Estados com desafios transnacionais, como migração, comércio e mudanças climáticas..Em quarto lugar, precisamos de mudar o modelo de governança para lidar com os desafios do século XXI. Uma Europa de redes deve substituir a Europa dos Estados, com as cidades atuando como motores de conectividade. A segurança também requer melhor comunicação e cooperação do que a oferecida pelas atuais alianças militares..Os ideais liberais foram traídos, mas isso não os torna redundantes. Os Estados nação continuarão a fazer contribuições valiosas para as nossas vidas, mas isso não justifica o seu quase monopólio nos assuntos públicos e nas relações internacionais. Uma pluralidade maior de ideais e instituições não implica maior caos. O atual caos resulta do fracasso em ajustar as nossas ideias e instituições ao mundo em constante mudança.
As cimeiras do G20 foram criadas para compensar os fracassos das Nações Unidas. Depois da cimeira da semana passada na Argentina, sabemos que o G20 dificilmente produzirá milagres. De facto, as pessoas sentadas à mesa de Buenos Aires são em grande parte responsáveis pelo colapso da ordem internacional. Roger Boyes, do Times de Londres, comparou a cimeira aos filmes de Francis Ford Coppola sobre o clã Corleone: "De um lado da mesa em Buenos Aires, um líder que diz que não cometeu assassínio, do outro, um líder que diz que sim. Há um presidente que acabou de ordenar o ataque a navios de um vizinho, o que equivale a um ato de guerra. Espalhados pela sala, uma dúzia de outros estadistas em conflito sobre fronteiras, dinheiro e influência. E a olhar um para o outro, os dois arquirrivais pretendentes ao lugar de capo dei capi, os presidentes dos Estados Unidos e da China. Apesar das aparências, a maioria dos participantes da cimeira do G20 do fim de semana não enterrou Don Corleone, mas enterrou a ordem liberal.".Nas livrarias e na Amazon, podemos comprar muitos livros sobre a ordem internacional, a cooperação global, a segurança regional e a integração europeia. No entanto, esses livros descrevem um mundo que já não é o que temos. Vivemos agora num mundo de caos, medo, agressão e ilegalidade. A União Europeia está a desmoronar-se. As Nações Unidas são impotentes e estão dormentes..Não sabemos como lidar com esta nova situação. Faltam-nos as teorias ou até mesmo as narrativas para descrever, quanto mais explicar, a situação atual. Temos inúmeras teorias da integração europeia, mas nenhuma da desintegração europeia. Temos teorias da hegemonia internacional ou do equilíbrio de poder, mas não temos uma teoria do caos internacional. No entanto, a vida continua e precisamos de lidar com a anarquia subsequente. Vamos identificar as manifestações e as causas do caos atual e depois falar sobre possíveis terapias..Manifestações do caos.Já não partilhamos as normas comuns da ordem internacional. Após o fim da Guerra Fria, a maioria dos atores endossou o Estado de direito, o livre comércio, as eleições democráticas e até mesmo os direitos humanos. Essas normas foram muitas vezes comprometidas na prática, mas a sua violação ainda era considerada uma aberração. Hoje, cada vez mais atores questionam a ordem liberal e as normas a ela associadas. Estados assassinam os seus adversários políticos em consulados, cafés ou no deserto com a ajuda de drones, sem vergonha e legitimação. Ciberataques são lançados diariamente. A interferência externa nas eleições democráticas tornou-se notória. Estas não são exceções às regras estabelecidas, este é o novo normal. A América, que costumava ser o líder do "mundo livre", tem agora um presidente que parece não acreditar em livre comércio, direito internacional, direitos humanos ou eleições justas. Viktor Orbán ou Recep Tayyip Erdoğan são atores menores quando comparados com Donald Trump..Já não sabemos quem é um amigo e quem é um inimigo. A América é nossa aliada atualmente? Ela ajuda ou atrapalha a nossa agenda ambiental? Ajuda ou atrapalha as nossas políticas em relação à Rússia ou ao Irão? A UE representa as nossas esperanças ou os nossos pesadelos? É difícil encontrar um país onde os cidadãos possam dar uma resposta clara e comum a essas questões. As opiniões sobre a Rússia estão ainda mais divididas. A China é geralmente considerada uma ameaça, mas a maioria dos líderes mundiais está em competição para cair nas suas boas graças..Todas as instituições internacionais estão em crise. Essas instituições deveriam estimular a cooperação e prevenir conflitos. Deveriam criar regras comummente acordadas de conduta internacional, procedimentos de tomadas de decisão conjuntas e penalizar os parasitas. No entanto, as instituições praticamente não estão a desempenhar essas importantes funções neste momento. Elas estão cada vez mais ineficientes ou totalmente paralisadas. As suas decisões estão a ser ignoradas. Se um político quer resolver um conflito em curso, não viaja para Nova Iorque, onde está a sede das Nações Unidas, mas para Washington DC e a sua famosa Casa Branca. Aqueles que querem resolver qualquer coisa importante na Europa viajam para Berlim em vez de Bruxelas..Estamos também em estado de guerra, no entanto é uma guerra híbrida. Se considerarmos o cocktail de terrorismo, guerras comerciais, ciberataques e expedições militares tradicionais nos chamados Estados "falhados", então é difícil afirmar que vivemos em paz atualmente. Estados de emergência foram decretados recentemente mesmo em países ocidentais como França e Espanha. O governo espanhol de Mariano Rajoy deteve vários jornalistas e humoristas por violarem a legislação antiterrorista. Não só o governo americano, mas também o austríaco e o húngaro estão a enviar soldados para proteger as fronteiras contra migrantes desarmados. Críticos e denunciantes estão a ser silenciados, perseguidos ou até mesmo mortos. Pensemos em Jamal Khashoggi, da Arábia Saudita, Caruana Galizia, de Malta, ou Jan Kuciak, da Eslováquia..A lei da selva não é o mesmo que o Estado de direito. Na selva, os predadores sentem-se em casa. Os cidadãos comuns não só não estão protegidos contra o uso arbitrário da força como também não o estão contra a exploração financeira ou o uso indevido de dados privados para fins comerciais. Veja-se o Facebook ou algumas companhias de seguros..Causas e remédios.Os populistas e a globalização são geralmente culpados por este lastimável estado de coisas. No entanto, a globalização não caiu do céu. Nem veio da China. A globalização resulta de políticas que liberalizaram o comércio, a comunicação, o trabalho e a concorrência. Essas políticas foram defendidas pelos principais governos ocidentais, não pelo presidente Xi Jinping. Pode-se acusar a China de muitas coisas, mas não de abraçar a liberalização, a desregulamentação e a privatização em larga escala..Não sou um defensor dos populistas, mas estes dificilmente podem ser culpados pela desigualdade, pelos paraísos fiscais e pelas falhas de governança das últimas três décadas. Eles simplesmente não estavam no comando de nenhum governo durante este período. Hoje, os populistas prosperam porque os liberais embarcaram em políticas económicas, migratórias e externas equivocadas. Não se pode sequer culpar os populistas pela atual confusão dentro da UE. Afinal, a UE está a ser gerida por pessoas tão simpáticas como Macron e Merkel, com uma pequena ajuda de Juncker, Tusk e Tajani. Todos eles se veem como genuínos liberais..Não podemos culpar apenas os políticos pelo caos que se seguiu, esse caos também está a ser causado pelos atores institucionais dominantes. Os Estados-nação são aqui os principais suspeitos porque usaram e abusaram dos seus poderes de maneira prejudicial à ordem, estabilidade e desenvolvimento sustentável. Nos últimos anos, os Estados estavam mais interessados em espiar os seus cidadãos do que em taxar e regular empresas privadas, especialmente as grandes. Eles tornaram-se Estados de mercado com identidades duvidosas e credenciais democráticas. Como os mercados são em grande parte transnacionais, eles têm pouco tempo para a nostalgia nacional. A busca competitiva por lucros no mercado também está em desacordo com as demandas democráticas por solidariedade e justiça. Estados que prezam os mercados estão mais ansiosos para servir as empresas do que os trabalhadores. Eles estão mais ansiosos para recompensar as empresas transnacionais do que os eleitorados nacionais. Isso ficou claro depois da crise financeira de 2008, quando os cidadãos comuns foram obrigados a cobrir os desvarios de banqueiros irresponsáveis. Os Estados também tiveram um desempenho fraco na arena política internacional, eles nunca abandonaram o seu controlo sobre organismos internacionais como a UE ou a ONU. Eles deram a essas organizações cada vez mais tarefas sem autonomia ou recursos adequados. Quando as coisas começaram a dar errado nos campos de segurança ou migração, os Estados reclamaram que pouco estava a ser feito por Nova Iorque ou Bruxelas. Na realidade, nem a ONU nem a UE jamais poderiam agir como desejavam, porque os Estados são seus senhores..A ironia da situação atual é que aqueles que causaram o caos estão a ser encarregados de restaurar a ordem. Salvini glorifica o Estado-nação e Renzi quer alinhar-se com um ex-banqueiro cujas políticas neoliberais acabaram de causar protestos em massa em toda a França. Na Polónia, um lado quer marchar orgulhosamente sob a bandeira nacional, e outro quer que Donald Tusk regresse de Bruxelas e restaure o seu reinado (neoliberal). No Reino Unido, os partidários do Brexit querem fortalecer o estado soberano, enquanto os partidários da permanência querem voltar a juntar-se à Europa liberal de Tajani, Tusk e Juncker. Apelos para uma terceira ou quarta via caem em orelhas moucas no atual ambiente político tribal..No entanto, a partir da minha análise, surge um catálogo diferente de medidas destinadas a reduzir o caos. Primeiro, precisamos de restaurar o equilíbrio entre liberdade e igualdade; sem isso, os populistas continuarão a prosperar e a criar confusão..Em segundo lugar, precisamos de restaurar o equilíbrio entre as esferas privada e pública, porque a primeira não restaurará a ordem e a estabilidade. A continuação da hegemonia neoliberal implica mais erosão, não a reconstrução da esfera pública..Em terceiro lugar, precisamos de criar instituições públicas fortes capazes de operar abaixo e acima do nível do Estado. Os Estados-nação já não podem reivindicar o monopólio de representação do povo. As autoridades locais são, por natureza, mais próximas dos cidadãos, e as autoridades transnacionais lidam melhor do que os Estados com desafios transnacionais, como migração, comércio e mudanças climáticas..Em quarto lugar, precisamos de mudar o modelo de governança para lidar com os desafios do século XXI. Uma Europa de redes deve substituir a Europa dos Estados, com as cidades atuando como motores de conectividade. A segurança também requer melhor comunicação e cooperação do que a oferecida pelas atuais alianças militares..Os ideais liberais foram traídos, mas isso não os torna redundantes. Os Estados nação continuarão a fazer contribuições valiosas para as nossas vidas, mas isso não justifica o seu quase monopólio nos assuntos públicos e nas relações internacionais. Uma pluralidade maior de ideais e instituições não implica maior caos. O atual caos resulta do fracasso em ajustar as nossas ideias e instituições ao mundo em constante mudança.