Definitivamente acabaram os tempos do "nunca mais" que dirigiu os responsáveis pela perspetiva da paz e prosperidade, com uma definição democrática a mundializar de acordo com os valores fixados na ONU e na finalmente institucionalização da secularmente sonhada unidade politicamente organizada da Europa. A resposta à tão propagada conclusão de Margaret Thatcher no sentido de que "There is no alternative" (1980) obriga a recordar em relação a que outras orientações a sentença se perfilava, e talvez não seja completamente inútil enumerar a queda do regime soviético na Rússia, a consequente extinção do domínio dos partidos comunistas na Europa em que ocupavam a metade do espaço que lhes ficara entregue no fim da guerra de 1939-1945, e uma esperança do que foi chamado "a primavera dos povos" pelos partidos ocidentais, que tinham o denominador comum da democracia, factos que tinham a sua resposta na sentença britânica. Passadas tão poucas décadas, a mobilização do horizonte capitalista está desafiada pela crise económica, financeira, e progressivamente política, com o reanimar de memórias, não do sovietismo, mas ou do regime de soberania sem partilha, frequentemente, ou multiplicando os populismos por enquanto em processo de identidade, mas dissidentes do apoio às instituições governamentais, adversários em resposta ao turbilhão das migrações em busca de refúgio e futuro, sendo crescente identificar como fascismo as tentativas de organizar, pelos caminhos da consulta eleitoral, a reação contra tudo o que contraria hoje o modelo soberano de Vestefália, criado por volta da nossa restauração contra o domínio filipino..A convicção da "não alternativa", que teve a adesão entusiasta do presidente Ronald Reagan, nos EUA, parecendo que, pela via do liberalismo económico, o mundo de raiz saxónica repunha grandezas do passado, encontrou-se com o sistema americano transtornado pelo populismo da última eleição presidencial, e o Reino Unido com o labirinto do brexit, de onde sairá um conjunto de debilidades quer para a Inglaterra quer para a União Europeia. Por tudo, o globalismo avança, mais apoiado nas inovações da ciência e da técnica, que nenhum modelo de governo parece capaz de racionalizar, permitindo não imaginar, mas prever com fundamentos inegáveis e tantas vezes supostamente ignorados, que é a própria humanidade que corre riscos irreversíveis..Em face destes riscos, começam a aparecer, mais uma vez, não ideológicas, mas várias manifestações de procura de melhor e pacífica maneira de reformular a arquitetura internacional, de acreditar alternativas ecológicas, de substituir os recursos energéticos, de não hesitar em reformular, e tornar respeitados, os sistemas jurídicos que acolham uma nova ordem exigida pelas novas circunstâncias, ainda que seja necessário consultar o que resta do espírito de Nuremberga. Uma consciência renovadora, a que os partidos clássicos, chamados a meditarem no processo que levou à eleição do presidente Emmanuel Macron em França, reconheçam que, para um mundo em mutação acelerada, não necessitam omitir ou salvaguardar os princípios, mas adotar as políticas às novas exigências, designadamente as que resultam do avanço da ciência e das técnicas, com os alarmes consequentes. Porque essa falta de atenção das elites políticas às novas exigências das sociedades civis faz crescer os populismos, multiplica as tentativas de inovação pela criação de novos partidos que dão um passo em frente mas lutarão contra o tempo exigido pela implantação significativa, sem deixar de aprofundar a inevitável quebra da unidade das formações tradicionais que não reconheçam e assumam a mudança das circunstâncias em que nasceram..Quando as circunstâncias da vida mudam, a sabedoria política, atenta aos valores, não pode ficar desatenta aos novos deveres. Sobretudo não pode ficar inativa quando, como está já a acontecer na União, a tendência de regresso ao passado só demonstra a incapacidade de compreender o presente. O que implica que podem guardar as ideologias, mas não construir o futuro, como tantas vezes evidencia o outono ocidental. Começa a ser difícil admitir que a solidariedade atlântica caminha para o ponto final, ainda que seja evidente que o risco que levou à sua expressão militar está hoje ofuscado pela formulação isolada do mito da América First, como se o mundialismo estivesse submetido às proclamações políticas ocasionais, que se abastecem da imaginação com falta de informação..Professor universitário