Elissa Epel, psicóloga, diz que "o stress é um estado psicológico muito forte". "É muito forte para o corpo, causa uma grande transformação na regulação do corpo, no sangue, no oxigénio, na glicose..." Afinal, em tudo. "E as células também respondem ao stress e procuram pistas sobre o quão seguros nos encontramos." É disso, e de genética e envelhecimento, que falará, no dia 11 de novembro, às 21.00, na conferência da Fundação Francisco Manuel dos Santos, a partir da Califórnia, onde vive e dá aulas..A investigadora, de 52 anos, tem-se dedicado a estudar o stress ao longo da sua carreira. "Comecei a estudar psicologia porque queria perceber melhor a ligação entre corpo e mente. Queria muito estudar como é que o stress entra na pele.".É nesse caminho que se cruza com os telómeros - as extremidades dos nossos cromossomas. Estes componentes que começou a investigar depois de conhecer a cientista Elizabeth Blackburn, distinguida com um Prémio Nobel em 2009 e também docente da Universidade da Califórnia, revelaram que existe uma relação entre stress e envelhecimento. "Fiquei muito entusiasmada quando descobri que existiam", explica. "São um relógio de bloqueio das células.".O que os sucessivos estudos com grupos diferentes têm demonstrado é que no comprimento dos telómeros reside a chave para prolongar a vida. Telómeros mais longos são sinónimo de vida mais longa. E menos stress ajuda a conseguir telómeros mais longos. Para tal, contribui uma vida com menos sofrimento, bons hábitos e boas relações.Pode atrasar-se - ou adiantar-se - este relógio em relação à idade cronológica? Serão a fonte da juventude? Elissa Epel, cientista, e por isso, cautelosa, responde: "Só uma das muitas formas de encontrar a fonte de juventude."."As pessoas que vivem um estilo de vida mais saudável têm mais probabilidades de terem uma vida mais longa", resume. "Nada é definitivo, mas aumenta a probabilidade de algumas doenças ou a morte aparecerem mais tarde.".Um dos grupos estudados por Elissa Epel analisa o comprimento de telómeros de pais de filhos com doenças crónicas, nomeadamente autistas, e pais de crianças neurotípicas. Os primeiros têm estas extremidades mais curtas, o que pode indicar que as suas células estão mais velhas. Mas não é a maternidade e a paternidade uma experiência stressante para qualquer um? São experiências de stress muito diferentes, frisa. Existe um mau e um bom stress, responde, ao telefone com o DN.."A parentalidade é um bom exemplo do bom stress", afirma. Porque "nos dá mais propósito, dá significado e sentido à vida", sustenta. "E é bom apesar de a pessoa esquecer algum cuidado de si mesma e de os primeiros meses serem muito exigentes.".Outro exemplo de bom stress é o trabalho. A mesma explicação, segundo a especialista. Oferece um propósito. "Mas não o burnout.".Elissa Epel dá como exemplos os profissionais de saúde em tempos de pandemia. "Se o trabalho dá um sentido, não pode estar associado a uma quantidade que é assoberbante e que cria um mau estado físico", refere, tomando como ponto de partida os que trabalharam em hospitais do estado de Nova Iorque. "E, entre esses, os enfermeiros pareciam ser os mais afetados, possivelmente por terem menos controlo sobre o seu trabalho.".Casamentos mais longos também equivalem a menos stress e, por isso, telómeros mais longos e mais probabilidades de ter uma vida longa. Os casais, nota, dão melhores respostas ao stress. E, sim, sexo também conta..Nas suas palestras, Elissa Epel diz que de todos os estudos que tem feito, aquele que menciona a importância das relações íntimas é o mais difundido. A conclusão é esta: do grupo de casais estudados aqueles que relatavam uma vida sexual mais rica apresentavam telómeros mais longos..Uma mulher viúva há mais de 40 e sem novas relações amorosas que chega aos 90 anos saudável contraria as teorias de Elissa Epel? A psicóloga alerta: "Nada é absoluto." Ou se pode entender isolado. O outro segredo para contrariar a idade biológica está nos bons hábitos de vida, que ajudam a prevenir o stress - fazer exercício, seguir a dieta mediterrânica, dormir bem.."Se não conseguirmos fazer tudo bem, escolhemos um hábito e focamos a atenção nesse. Fazer o melhor aí", recomenda. "Nós podemos mudar o nosso corpo", diz Elissa Epel ao telefone com o DN. "É um processo dinâmico, mudar um comportamento muda a química das células. Os telómeros podem tornar-se mais estáveis e crescer.".Os comportamentos de cada um contam, mas Elissa Epel não os vê como algo que tenha de ficar fechado na categoria de conselho prático. "Em vez de dizermos a alguém para fazer exercício, talvez tenhamos de construir cidades mais para caminhar do que para andar de carro", diz..Essa mudança, salienta, é uma mudança que diminui as emissões de carbono - "muda a saúde e o planeta". E o mesmo se poderia aplicar em relação ao consumo de carne vermelha, nota. "A criação de gado leva a poluição, menos consumo diminui a poluição do ar."