A palhaça portuguesa que criou um festival de riso nos Açores

Maria Simões vive há nove nos Açores, onde desenvolve a sua atividade de artista, na comunidade e nos palcos. Agora criou o Bolina, Festival Internacional de Palhaças.
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Maria Simões sabe que o riso cura, e que aproxima as pessoas - de si próprias e dos outros. Por isso usa "a máscara mais pequena do mundo", como lhe chama, o nariz de palhaço, para convocar esse riso e chegar mais perto de quem passa na rua, dos doentes, às vezes crianças, num hospital ou num centro de saúde, ou dos idosos, em lares e centros de dia. Mas também no palco. Maria Simões, 38 anos, é palhaça - "a palavra existe, porque não usá-la?", diz -, e quando se transforma em "Luna", em "Dulcineia", ou "Doutora Palhaça" lá está o nariz vermelho, mas também uns óculos, um chapéu ou uma cabeleira especial, indispensáveis às suas risonhas personagens.

Natural de Aveiro, Maria Simões dedicou-se ao teatro em Tondela e em 2003 tornou-se palhaça. Há nove anos decidiu mudar-se para os Açores, onde criou a cooperativa cultural Descalças, e tem desenvolvido ali parte da sua atividade artística e comunitária - "também tenho trabalhado na América Latina, em Espanha e noutros países", conta. Agora decidiu lançar-se numa nova aventura e criou o Bolina Azores, Festival Internacional de Palhaças, cuja primeira edição vai decorrer em São Miguel já a partir desta segunda-feira, dia 26, e até ao dia 2 de fevereiro.

"Temos 25 palhaças inscritas, de seis países, e vamos ter os dias muito preenchidos com ações de formação, trabalho comunitário e espetáculos de rua e de palco", adianta a artista e organizadora do evento. "A ideia é fazer dos Açores um ponto de encontro regular das palhaças, como acontece com outros festivais idênticos em Barcelona ou no Brasil, ou com o Ciclo das Mulheres Palhaço no Chapitô, em Lisboa, para trocar experiências, aprender, e contactar com as pessoas. Vamos ter sessões diárias de formação, por exemplo na área de clown de hospital, para criarmos aqui nos Açores um grupo capaz de fazer regularmente essa atividade", explica Maria Simões.

Outro papel essencial do Festival Bolina será o da criação de uma rede internacional de palhaças, cuja sede ficará nos Açores, "a localização ideal", a meio caminho entre vários continentes.

"Este é um desejo antigo de todas nós que trabalhamos nesta área, em vários cantos do mundo, e vamos concretizá-lo agora", sublinha Maria Simões. A rede internacional, sublinha, "facilitará as ações de formação, a congregação de apoios e o desenvolvimento de missões internacionais de intervenção comunitária, como fazem por exemplo, os Palhaços sem Fronteiras".

Para esta palhaça portuguesa, e para as que vão estar presentes no festival, oriundas do Peru, Alemanha, Áustria, França, Espanha e, claro, também de Portugal, a intervenção comunitária é uma das pedras-de-toque da sua atividade. Levar o riso onde ele é mais necessário - aos hospitais e a lares de idosos, às escolas ou aos bairros pobres, como faz a peruana Wendy Ramos, que também estará presente no Festival Bolina - faz parte do dia-a-dia destas artistas. Ou, como diz Maria Simões, "há coisas muito bonitas que acontecem quando pomos o nariz. Nessas alturas, o que temos dentro do coração salta cá para fora". E, então, surge o riso.

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