A palavra que os ditadores odeiam

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Há poucos anos, quem se proclamasse liberal seria visto entre os portugueses com reservas ou desconfiança. Como se fosse um bicho estranho. Num país onde ninguém sentia vergonha de se afirmar comunista ou socialista.

O liberalismo, além dos pergaminhos históricos, é uma das principais famílias políticas europeias e tem estado presente na governação das sociedades e economias mais dinâmicas do espaço comunitário a que Portugal pertence.

Quando apareceu a Iniciativa Liberal, não faltou quem nos criticasse por ousarmos assumir-nos desta forma e dizermos que modelo de sociedade defendemos. Como se ser liberal, neste país de atávicos costumes, fosse um delito ou um pecado.

Hoje já ninguém tem dúvidas. Tomámos a decisão certa. E contribuímos para pôr fim ao estigma imposto e que esteve demasiado tempo associado à palavra liberal. Sem disfarces nem rodeios. Não falta até quem diga que ser liberal gera adesões cada vez mais espontâneas.

Alguns já eram liberais, embora ainda não o soubessem. Outros juntaram-se à nossa causa por perceberem que esta é a solução que falta num país estagnado, com socialismo a mais e liberalismo a menos.

Além dos erros de consecutivos governos, o contexto favoreceu-nos, por bons e maus motivos.

O liberalismo foi enaltecido nas comemorações do bicentenário da Constituição de 1822, emanada da Revolução Liberal de 1820. Ali ficaram consagrados, pela primeira vez, o primado da lei, a soberania popular, a separação de poderes e alguns direitos essenciais que transformavam o súbdito num cidadão de pleno direito, como o direito à propriedade. Um marco na nossa História.

Sem vozes discordantes. Na própria Assembleia da República, como ficou patente numa sessão solene convocada para o efeito, todos reivindicaram ser herdeiros desse legado civilizacional que foi a primeira Constituição portuguesa. Sim, todos.

Bastante relevante, não só em Portugal, tem vindo a ser a guerra na Ucrânia, vítima da agressão russa. Ali colidem dois modelos opostos. O da potência invasora, imperialista e ultra-conservadora, que odeia as liberdades do Ocidente e quer esmagá-las. E o da nação invadida, que se revê nos padrões liberais da União Europeia e que se bate por eles com uma coragem que tem comovido o mundo.

Vladimir Putin odeia o liberalismo, patente nos discursos em que critica a "ruína moral" desta parcela do globo em que vivemos. E em entrevistas, como em Junho de 2019 fazia capa no Financial Times, afirmando "the liberal idea has become obsolete". Eis que a guerra por ele iniciada demonstra exactamente o oposto. Moscovo destrói, assassina e recebe armamento e tecnologia da ditadura teocrática de Teerão, outra inimiga declarada do Ocidente. Irão e Rússia detestam a democracia liberal, prendem ou até executam quem, dentro das fronteiras desses países, advoga este modelo de sociedade. Ser liberal constitui delito na China ou em Cuba. E pode custar a vida na Nicarágua ou na Bielorrússia, fiéis aliadas de Putin.

Liberalismo é uma das palavras mais detestadas pelos déspotas do planeta. Os regimes opressores proclamam-se "iliberais", antónimo que ajuda a clarificar a política global e é útil para arrumar ideias.

Daí tanta gente ter perdido hoje o receio de se proclamar liberal. Não concebemos um mundo capaz de sacrificar direitos fundamentais em troca da falsa segurança e da mordaça imposta pelo Estado autoritário.

O valor supremo para nós, liberais, é a liberdade. Um bem escasso, precioso e sempre em risco. Milhares de pessoas morrem todos os dias a lutar por ela.

Deputado Iniciativa Liberal
Escreve de acordo com a antiga ortografia

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