Quando do anúncio em abril de 2012 do fecho da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, o então ministro da Saúde, Paulo Macedo, dizia que essa era a solução porque o número de partos era elevado naquele centro de excelência e estava-se longe de responder à capacidade instalada noutros centros hospitalares como Santa Maria, Estefânia e São Francisco Xavier. Na altura, o Ministério recusou a sugestão de que os partos de beneficiários da ADSE (a Direção-Geral de Proteção Social aos Trabalhadores em Funções Públicas) fossem primeiro realizados nos hospitais públicos e só em caso de incapacidade destes fossem encaminhados para os privados..Percebe-se: a ADSE é um bom negócio para o setor privado. Em janeiro de 2014, quando a ES Saúde (do então Grupo Espírito Santo) chegou à bolsa, o Estado garantia 53,8% das suas receitas. Eram - e pouco terá mudado desde essa data - os subsistemas públicos de saúde (leia-se: ADSE), a parceria público--privada que é o hospital de Loures e outras verbas provenientes do Estado que garantiam à empresa mais de metade das receitas, o que também comportava riscos, como se assumia no prospeto entregue aos investidores..Na execução do programa de ajustamento, houve um sistema em que o governo anterior não tocou: o memorando da troika fixava como meta para 2016 a autossustentabilidade da ADSE, "através do decréscimo das contribuições da entidade empregadora e pelo ajustamento do âmbito dos benefícios de saúde". Nem uma nem outra. O executivo de Passos Coelho até aumentou os descontos dos funcionários públicos e dos reformados, que passaram de 1,5% para 3,5%..Depois da entrevista de ontem ao DN, esclareceu o ministro Adalberto Campos Fernandes (ver pp. 6-7) que a ADSE vai continuar a ser um sistema em que os seus beneficiários "pela natureza estatutária e contributiva manterão rigorosamente os direitos de livre escolha dos prestadores de cuidados de saúde, com total autonomia". Mesmo que haja capacidade instalada no Serviço Nacional de Saúde para responder..A pergunta tinha sido direta - "até que ponto os hospitais públicos não deviam esgotar a sua capacidade de atendimento aos beneficiários da ADSE e só depois serem encaminhados para os hospitais privados?" - a resposta também parecia ser ("Eu diria: bem-vindo ao clube!"). Mas afinal não: a ADSE continuará a ser uma boa renda para o setor privado.