A obra e o corpo de Helena Almeida do outro lado do espelho
"Nunca fiz as pazes com a tela, o papel ou qualquer outro suporte. Creio que o que me faz sair do suporte, através de volumes, fios e de muitas outras formas, foi sempre uma grande insatisfação em relação aos problemas do espaço." As palavras são de Helena Almeida e nelas a artista plástica ajuda a desconstruir um pouco da sua obra.
Serralves pegou em meio século de trabalho da artista portuguesa, nascida em Lisboa, em 1934, e criou a exposição Helena Almeida: a minha obra é o meu corpo, o meu corpo é a minha obra, que hoje abre portas e ocupará a ala direita do museu de arte contemporânea, no Porto, até 10 de janeiro do próximo ano.
"Esta exposição não é uma retrospetiva da obra de Helena Almeida, mas traça um perfil sobre toda a obra dela e mostra-nos quão radical já era a sua abordagem na década de 1960 e como continua a ser", explicou na apresentação, ontem, a diretora do museu Suzanne Cotter.
João Ribas, diretor-adjunto e curador da mostra, juntamente com Marta Moreira de Almeida, partiu de imagens de Helena Almeida e do seu trabalho para sintetizar uma mostra que mistura o arquivo e a obra da artista, desde 1967 a 2012.
"O corpo, a obra e a relação de ambos com o espaço fotográfico e o espaço de pintura, que se invadem mutuamente, podem de alguma forma sintetizar esta exposição", explicou João Ribas, acrescentando a propensão que Helena Almeida foi revelando ao longo da evolução da sua expressão artística para usar o objeto artístico seja pintura, desenho, fotografia ou vídeo para "marcar a sua linha, deixar a sua marca e até vestir a tela".