A nova teoria Big Mac para um salário digno

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Teoria dos Arcos Dourados, Índice Big Mac, Mcjobs e fiquemos por aqui. Nunca uma cadeia de restaurantes contribuiu tanto para a geopolítica e a ciência económica. E tirando a Coca-Cola no tempo da guerra fria também nenhuma marca atraiu tantos ódios mundo fora como a McDonald"s: desde o agricultor francês José Bové até aos fundamentalistas islâmicos, passando pela claque do Beitar de Jerusalém irritada com a falta de restaurantes nos colonatos judeus, muita gente já partiu vidros, incendiou instalações ou bateu em funcionários da multinacional americana.

Ora, quem agora anda revoltado são os próprios trabalhadores da McDonald"s, pelo menos nos Estados Unidos. Em Nova Iorque e Chicago tem havido protestos contra os baixos salários que também atraíram funcionários de outras cadeias, como a Kentucky Fried Chicken. Uma espécie de "trabalhadores do fast food uni-vos".

Duplicação do salário, exigem os contestários. E quem lhes deu argumentos? A própria McDonald"s, ao publicar um estudo sobre o mínimo necessário para uma vida digna. Assim que foi notado que a empresa pagava abaixo do limiar da pobreza, o guia passou a manifesto antissalários de miséria.

É que se os Mcjobs começaram por ser uma forma de os estudantes ganharem uns dinheiritos, agora boa parte dos trabalhadores abrangidos são chefes de família.

E não se pense que o problema se resume ao fast food. Outras grandes empresas têm enfrentado críticas. É o caso dos supermercados Wal-Mart (a maior firma americana, segundo a Fortune), que no ano passado enfrentaram greves inéditas. E nas recentes manifestações participaram até lojistas da Victoria"s Secret. O que levanta a questão de que tipo de empregos estão a ser criados ( e não só na América, diga-se). Depois de ter ultrapassado a fasquia dos 10%, o desemprego nos Estados Unidos baixou para 7,4%.

"Luta pelos 15", lê-se nas T-shirts dos manifestantes. É o valor em dólares que exigem por hora de trabalho. Parece muito, mas o Hunfington Post chegou a calcular que ceder, no caso da McDonald"s, significaria aumentar em 68 cêntimos o Big Mac. Depois refez a conta, aplicando-a aos franchisados, e deu afinal 1,28 dólarIes. Mesmo assim, e citando o Índice Big Mac da Economist, esse hambúrguer ficaria por 5,27 dólares nos Estados Unidos, quando na Noruega custa 7,51 (sempre calculado na moeda americana). OK, na África do Sul é 1,80 dólares!

No meio de tanta má fama, a McDonald"s exibe também um lado atrativo. A sua entrada num país, afirmava há uns anos um famoso colunista do New York Times, representa o triunfo do liberalismo económico e o princípio do caminho para a democracia. Thomas Friedman ia mesmo ao ponto de garantir que duas nações com McDonald"s nunca entrariam em guerra, a famosa Teoria dos Arcos Dourados que Rússia e Geórgia desmentiram. Mais terra a terra, muitos preferirão notar o grande jeito que dá um fast food em férias ou quando se tem miúdos.

Com uma dentada nos lucros (que subiram com a crise!), a McDonald"s até não teria de refletir todo o peso do aumento dos salários no custo do hambúrguer. Mas e se tivesse de ser? 1,28 dólares é menos do que um euro. Tal como não há almoços grátis, sabe bem melhor a refeição num restaurante cujos empregados quando chegarem a casa terão dinheiro para pagar as contas.

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