Logo após o referendo do Brexit, defendi a ideia de o Reino Unido se juntar à Noruega no Espaço Económico Europeu e na Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA). Esta opção respeita tanto o voto pela saída como a sua estreita margem de vitória. No mínimo, o modelo da Noruega teria dado uma boa transição durante cerca de cinco a dez anos..Subsequentemente, Theresa May conseguiu um acordo melhor do que eu pensava ser possível, sob o qual o Reino Unido seria capaz de restringir a imigração, entrar em acordos comerciais de outros países e ainda permanecer estreitamente alinhado com a UE..A opção da Noruega é uma versão mais suave do Brexit do que o acordo de Theresa May, mais fácil de conciliar com a salvaguarda irlandesa e, por esse motivo, é a preferida de algumas pessoas. Mas viola as linhas vermelhas da primeira-ministra: um membro do Espaço Económico Europeu (EEE) deve aceitar a liberdade de circulação. Dentro da EFTA, os membros não podem entrar em acordos comerciais importantes de outros países..Ao contrário do que se diz, a Noruega não é um Estado vassalo da UE. Não faz parte da união aduaneira, nem da Política Agrícola Comum e da política comum das pescas, nem está sujeita ao Tratado de Lisboa. A fronteira não é, portanto, totalmente aberta. Mas a Noruega aceita a regulamentação da UE. Por conseguinte, as suas indústrias de serviços, incluindo no setor financeiro, têm o direito de operar livremente em toda a UE..A opção da Noruega oferece ao Reino Unido mais do que apenas uma transição suave. Poderia também funcionar como uma porta de entrada para outras relações pós-Brexit - desde uma saída limpa até uma reentrada rápida na UE..A opção da Noruega é diferente da preferida pelo Partido Trabalhista - uma união aduaneira - em vários aspetos importantes. O que elas têm em comum é que não se pode participar em acordos comerciais com terceiros em nenhuma delas. Ao contrário da opção da Noruega, a união aduaneira permitiria que o Reino Unido restringisse a imigração, o que setores do Partido Trabalhista acreditam ser politicamente necessário. Mas a sua maior vantagem é que seria menos prejudicial para as cadeias de fornecimentos industriais. Isso favoreceria a indústria em detrimento dos serviços..Mas não há maioria para o plano trabalhista na Câmara dos Comuns, nem há deputados suficientes a apoiar um segundo referendo. Para a opção da Noruega, pode ser que sim. Se o acordo de Theresa May for novamente derrotado nesta semana, espero que o Parlamento do Reino Unido tenha votos indicativos sobre as alternativas. Entre elas, a Noruega está à frente, mas ainda pode cair se os atuais apoiantes de um segundo referendo ou da união aduaneira se apegarem às suas primeiras escolhas..O que acontecerá se não houver maioria para uma alternativa positiva ao acordo de Theresa May? Espero então que a primeira-ministra apresente uma versão cosmeticamente modificada do seu acordo para uma terceira tentativa. Ela poderá realizar a votação final nos últimos dias do mês, talvez até mesmo no dia do Brexit, a 29 de março..Nesse ponto, mas não antes, aconselho os adeptos da opção da Noruega a endossarem o seu acordo. Pensemos a longo prazo, na altura das próximas eleições gerais, marcadas para 2022, as negociações comerciais bilaterais com a UE não estarão ainda concluídas. Os partidos da oposição poderiam fazer campanha pela Noruega (ou pela união aduaneira) como alternativa..O pior resultado para os adeptos da opção da Noruega seria um Brexit sem acordo. As hipóteses de isso acontecer são mais altas do que muitos imaginam, porque eu acredito que a UE está limitada na sua capacidade de prorrogar o artigo 50º. Os líderes da UE querem garantir um período de tempo livre entre o dia em que a Grã-Bretanha sair e as eleições para o Parlamento Europeu, que acontecerão entre 23 e 26 de maio..Se a UE concordar com uma extensão de três meses até ao final de junho, existe o risco de que o governo do Reino Unido seja forçado a participar nas eleições para o Parlamento Europeu. Uma comissão legal do Bundestag, a Câmara Baixa do Parlamento alemão, concluiu que a incapacidade de realizar eleições violaria os direitos dos residentes no Reino Unido. O desentendimento entre o Partido Popular Europeu, o agrupamento de partidos políticos europeus de centro-direita e Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, também pode complicar a dinâmica política, favorecendo uma extensão muitíssimo curta, de quatro ou cinco semanas no máximo..À luz destas limitações para a extensão do Brexit, vejo as opções do Reino Unido reduzidas a três: o acordo de Theresa May, a opção da Noruega ou não haver acordo. A opção da Noruega merece ser considerada. Pode ser a única maneira de evitar uma saída sem acordo..© The Financial Times Limited, 2019