A música eletrónica que cala os carros do Marquês de Pombal
Podem buzinar à vontade na rotunda do Marquês de Pombal. Dali não se ouve nada. Ala esquerda do Parque Eduardo VII (para quem estiver de costas para a avenida da Liberdade). A batida sente-se nos pés e no peito. É eletrónica. Passam adultos com algodão doce de cor verde, outros deitam-se na relva a ler o jornal, os miúdos correm e brincam pelo parque, pais e filhos jogam matraquilhos, há um piquenique.
E depois o motivo de tudo isto: um palco. Estamos no LISB-ON # Jardim Sonoro, festival que ontem recebeu o produtor norte-americano de eletrónica Nicolas Jaar ou os tão portugueses Fandango (Gabriel Gomes e Luís Varatojo). Hoje receberá nomes como o do norueguês Todd Terje e seus sintetizadores e o português Mr. Herbert Quain (nome de uma personagem de Jorge Luís Borges), Manuel Bogalheiro.
Jonas é engenheiro aeroespacial. Comprou bilhete para os dois dias (o diário custa 25 euros) e tinha Jaar e Terje em mente quando o fez. Do primeiro diz imaginar que será o "artista mais influente da segunda década do século XXI". Jaar é uma visita habitual de Lisboa. Jonas lembra que o músico de 25 anos - filho do artista plástico chileno Alfredo Jaar - lançou de surpresa, em junho, o seu último álbum, Pomegranates, no Twitter. Parte de uma banda sonora que fez para o filme do arménio Sergei Parajanov, The Color of Pomegranates (1969). Dali a pouco, Jaar poria a dançar, num DJset de duas horas que abriria com Os Vampiros de Zeca Afonso - canção em que já se fez acompanhar pela fadista Gisela João - as pessoas que formavam uma longa fila para entrar no recinto.