A mulher que via passar as casas através do comboio
Claro está que os especialistas anglófilos a catalogar livros por género já descobriram onde arrumar este thriller que estreia na ficção Paula Hawkins, uma nativa do Zimbabwe há muito radicada em Londres - consideram-no um exemplo perfeito do domestic noir. Por razões que saltam à vista: com exceção de algumas incursões, complementares, nunca nucleares, na capital britânica, toda a ação decorre em dois subúrbios londrinos. Porque as personagens marcantes de The Girl on the Train, um dos mais retumbantes êxitos editoriais deste ano, a um nível transnacional (nesta semana figura na lista de mais vendidos da Amazon no Reino Unido, nos Estados Unidos, na Austrália, no Canadá e em França, aguardando as edições alemã e italiana que se concretizarão, tal como a portuguesa, no próximo sábado), vestem todas o figurino de uma aparente banalidade, com vidas "pequeninas", ocupações pouco brilhantes, desempregos que se consideram naturais ou estatuto de domésticas.
Enfim, por um motivo que deixa à vista um rasto de preconceito: lado a lado com o livro de Hawkins, os outros dois "arquétipos" surgem igualmente assinados por mulheres. A saber, Em Parte Incerta, da norte-americana Gillian Flynn, com demasiados fatores distintivos para caber facilmente no mesmo saco, e o espantoso Elizabeth Is Missing, outro romance de estreia, o da britânica Emma Healey.