A mulher do fim do mundo que acabou com a chuva
Foi com um cenário apocalíptico, quase de juízo final, que Elza Soares recebeu a torrente de público, vinda da tempestade lá fora, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, em busca de redenção.
No palco do Coliseu dos Recreios, a decana da música popular brasileira, por todos esperava do alto do seu púlpito, qual mãe de santo imortal, para pregar a sua mensagem à multidão atónita. É caso para dizer que, aos 78 anos (ou serão 79 ou 80 ou 86?), Elza Soares está na flor da idade, tal a força e a presença da sua voz.
Com um concerto centrado no aclamado e último disco A mulher do fim do mundo, que recentemente venceu o Grammy latino para "melhor disco de música brasileira", Elzinha, como também é carinhosamente conhecida, foi ontem uma Elzona.
O seu samba sujo, insolente e desafiador (construído por uma banda de fiéis e exemplares acólitos) embalou os corpos e aconchegou as almas durante mais de uma hora. "Isto é apenas o começo, porque muito mais está para vir", anunciou na despedida, depois de dois encores que souberam a pouco, mas vão ficar para sempre na memória e no coração de todos os presentes, como sempre acontece nas aparições divinas. E entretanto, lá fora, a chuva parara.
A segunda e última noite do Vodafone Mexefest, que segundo a organização levou cerca de 15 mil pessoas a deambular pelos vários palcos situados em diferentes pontos da Avenida da Liberdade, teve outro ponto alto: a atuação do português Branko, pela primeira vez a apresentar-se a solo, desde a separação dos Buraka Som Sistema.