A mulher do 1.º presidente "negro" contra o ativista dos direitos cívicos

Na Carolina do Sul, Hillary Clinton e Bernie Sanders lutam hoje pelo voto dos afro-americanos, metade do eleitorado democrata.
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Uma é casada com Bill Clinton, o amante de saxofone que a escritora Toni Morrison apelidou nos anos 90 de "primeiro presidente negro". O outro foi ativista pelos direitos cívicos dos negros na Universidade de Chicago, tendo assistido em Washington com outros estudantes ao discurso de Martin Luther King "Eu Tenho Um Sonho". Agora, tanto Hillary Clinton como Bernie Sanders contam com o seu currículo para conquistar o voto dos negros nas primárias de hoje na Carolina do Sul.

Depois da curta vitória no Iowa, da pesada derrota no New Hampshire e de ganhar no Nevada, a ex-primeira-dama conta com o seu forte apelo junto da comunidade negra para conquistar a Carolina do Sul. Naquele estado, onde os afro-americanos constituem mais de metade do eleitorado democrata, as sondagens dão uma enorme vantagem a Hillary sobre Sanders - 60% das intenções de voto, contra 32% para o senador do Vermont.

Com a sua mensagem antissistema, Sanders conseguiu conquistar os jovens e a ala mais liberal do Partido Democrata. Mas, depois do contratempo no Nevada, o senador, que se identifica como socialista democrático, precisa de alargar a sua base de apoio se quer manter a esperança de conquistar a nomeação democrata e acabar com a aura de inevitabilidade da candidatura de Hillary. Sobretudo quando os olhares - e as máquinas de campanha - se começam a virar para os 11 estados que vão a votos na superterça-feira 1 de março. "Ele precisa de encontrar uma maneira de conquistar a base de apoio de Hillary. Mas não me parece que o consiga aqui", explicou à Reuters David Woodard, cientista político na Universidade Clemson da Carolina do Sul.

Apoiada por um grupo de mulheres afro-americanas que inclui desde Shonda Rhimes, produtora da série Scandal, a Sybrina Fulton, a mãe de Trayvon Martin, o adolescente negro morto em 2012 na Florida por um agente da polícia, Hillary espera aproveitar a simpatia que a comunidade negra ainda tem pelo marido. Isto além de jogar com a herança do presidente Barack Obama, para o qual perdeu a nomeação democrata em 2008. Há oito anos, Hillary perdeu a Carolina do Sul para o então jovem senador do Illinois, filho de um queniano e de uma branca do Kansas, que conseguiu mais 30 pontos percentuais do que a adversária.

"Hillary Clinton tem um longo currículo de luta pelos direitos dos afro-americanos e velhas ligações à Carolina do Sul", explicou à ABC News Clay Middleton, diretor de campanha da ex-primeira-dama naquele estado. Mas este admite que a equipa "não dá nada como garantido". Por isso têm levado a campanha porta a porta, sem esquecer os barbeiros, salões de cabeleireiro ou igrejas.

A campanha de Sanders, por seu lado, tem procurado dar a conhecer o candidato. Sem nunca esquecer o seu passado de ativista pelos direitos cívicos dos negros, o senador do Vermont conseguiu nos últimos dias alguns apoios de peso. É o caso do realizador Spike Lee, que, num anúncio que tem passado nas rádios estaduais, se refere a Sanders como "o meu irmão" e apela aos eleitores para "acordarem" e votarem no veterano de 74 anos.

Superterça-feira

Dos 11 estados onde os democratas vão a votos a 1 de março, sete ficam no Sul dos EUA. Uma realidade que dá vantagem a Hillary, com os analistas a lembrarem que as grandes comunidades hispânica e negra podem criar a tal parede (ou firewall) que a ex-primeira-dama deseja para travar de vez as ambições de Sanders.

Com 21,3 milhões de dólares recolhidos só em janeiro (face a 13,2 milhões de Hillary), Sanders tem sem dúvida os fundos necessários para ficar na corrida mais uns tempos, arrastando a luta pela nomeação até abril ou maio, quando as primárias democratas regressam a estados mais liberais e com populações mais brancas, logo mais abertas à sua mensagem.

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