A morte da Praça
A RTP matou a Praça da Alegria e o Portugal no Coração. Agora vem aí o Verão Total e depois o novo daytime da televisão pública que, aqui entre nós, não há de mudar muito. E não é por falta de capacidade de iniciativa, é porque na televisão generalista deixou de ser possível arriscar um milímetro. O importante é adaptar formatos testados, dar ao público o que ele procura, reciclar conceitos e fórmulas anteriormente usados. E é por isso que, nos próximos meses, o Verão Total vai percorrer terras, aldeias históricas, festas, praias fluviais, lagoas e outros pontos do Portugal mais ou menos profundo. E é por isso que, por ali, entre as caras do canal, vão desfilar músicas ritmadas, talentos de acordeão e meninas de boas formas a dançar em palco. E, promete o canal, "fazer uma conta de somar com a cultura, a tradição e descobrir os melhores sítios de todo um pais rico em natureza". Seja lá o que isso for.
Na hora da despedida, porém, é bom lembrar as centenas de profissionais que ao longo de quase duas décadas fizeram diariamente a Praça da Alegria. A memória dos espectadores é sempre curta, e hoje o programa da RTP é olhado como mais um entre tantos outros programas que fazem "contas de somar com a cultura, a tradição e a descoberta". Houve um tempo, porém, em que as manhãs da televisão eram o horário mais desprezado da televisão portuguesa. E se hoje são um ringue de combate pelas audiências, com contratações entre canais a animar o mercado, deve-o à Praça. Por aqueles estúdios, no Monte da Virgem, no Porto, onde nasceu, cresceu e ganhou personalidade, ou em Lisboa, onde definhou e morreu, passaram muitos comunicadores, muitas histórias, muitas emoções e muitos cantores de qualidade, no tempo em que a televisão não era apenas um (quase) albergue de música pimba.