A monitorização dos resultados da psicoterapia

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A procura por serviços de apoio psicológico e psicoterapêutico aumentou em Portugal.

O pós-Covid confirma que muitas pessoas continuam a resolver os impactos de uma profunda crise de saúde psicológica. Que vinha de trás. Como é sabido, Portugal tem sido, ao longo de décadas, um dos países europeus com maiores índices de perturbações psicológicas. Como é sabido, também, o país nunca investiu estruturalmente na área da saúde mental, e não implementou as ações previstas nos diversos planos nacionais de saúde mental. Há, hoje, uma maior informação e aceitação sobre a validade dos acompanhamentos psicoterapêuticos, sobretudo nos grandes centros, mas existe ainda, um desconhecimento generalizado sobre alguns dados importantes.

Desde logo, que a psicoterapia é eficaz. A investigação sugere que a pessoa em tratamento psicológico tem, em média, melhorias mais significativas que 80% da amostra não tratada. A psicoterapia é, em muitos casos, igualmente eficaz a intervenções medicamentosas, sendo os ganhos terapêuticos da primeira geralmente mais duradouros e com menos efeitos colaterais. Mais ainda, os estudos demonstram que a psicoterapia é a forma mais eficiente na intervenção das principais perturbações psicológicas como a depressão e a ansiedade. Este reconhecimento científico, conduziu a que vários organismos internacionais mantenham recomendações expressas, para que a psicoterapia seja a via privilegiada no tratamento de perturbações psicológicas. Não obstante estas recomendações, e apesar das melhorias ocorridas, ainda estamos muito longe desse cenário. Em Portugal, em particular, será necessário investir para se poder vir a ter um retorno de duas ordens: maior bem-estar na população e poupança nas contas públicas e privadas.

Estudos demonstram que o investimento de cada 1€ em saúde psicológica tem um retorno de 5€. Os dados são favoráveis e suportam a tomada de decisão de investimento. Ainda nos falta passar à ação. A nível individual e, apesar de uma maior procura por parte das pessoas, algumas questões e reservas mantém-se legitimamente presentes. "Como é que eu sei que a psicoterapia funciona? Como posso saber se irei obter resultados? Em que medida é que ajuda? O conhecimento e os métodos são baseados em conhecimento científico?"

Uma das práticas baseadas na evidência científica, que ajuda a responder a estas questões, é a implementação de sistemas de monitorização de resultados da psicoterapia. E o que ​​​​​​​são estes sistemas? Desde logo, permitem que o psicólogo/psicoterapeuta e a pessoa que solicitou apoio, tenham uma leitura objetiva, se este último melhorou com a intervenção psicoterapêutica. Para além dos dados objetivos, os sistemas de monitorização têm outras vantagens: a) ajudam a adaptar a intervenção psicoterapêutica às principais necessidades da pessoa; b) permitem que o psicoterapeuta e a pessoa tenho um maior nível de colaboração entre os dois; c) os pacientes valorizam muito estes sistemas porque conseguem visualizar o caminho da intervenção que estão a fazer; d) promovendo o seu maior envolvimento e) e assim evitando desistências da psicoterapia, ou mesmo, resultados negativos desta.

Os sistemas de monitorização de resultados, é uma prática baseada na evidência científica que pode ser implementada nos serviços de apoio psicológico, incluindo por exemplo, do serviço nacional de saúde. Dão mais garantias às pessoas, uma vez que se sentem mais seguras a realizar os processos de terapia, e permitem igualmente, dar uma avaliação sobre o retorno positivo e dos resultados dos processos psicoterapêuticos. Estes últimos, não são isentos de dificuldades, e não são 100% eficazes para todas as situações. Como nenhum método de tratamento. Contudo, são um contributo essencial, e ainda carecem de um investimento significativo, por parte de políticas públicas e privadas. Quem investe também necessita de garantias. Estes sistemas são um contributo para formas objetivas de avaliação e de verificação dos investimentos realizados. Em Portugal, não há ainda uma cultura de monitorização de resultados clínicos, dos processos psicoterapêuticos. Contudo, a experiência clínica e a investigação científica, têm amplamente demonstrado que a monitorização, através de sistemas objetivos, contribuem para a melhoria da qualidade dos serviços psicológicos. Com o inerente benefício de todas as partes envolvidas.

Diretor Clínica Ispa

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