A moda dos candidatos contra os partidos
A descredibilização a que os partidos se têm exposto nos últimos anos abriu espaço a projectos políticos independentes. A candidatura de Manuel Alegre às últimas presidenciais e o milhão de votos conseguido chegaram a fazer-nos acreditar que estávamos diante de uma nova era da democracia nacional, partidária na sua génese. Pura ilusão. Os anos que se seguiram à eleição de Cavaco Silva para Belém demonstraram que os portugueses insatisfeitos com os partidos continuavam órfãos.
Manuel Alegre, porém, soube capitalizar a vitória sobre Mário Soares em benefício próprio e foi mantendo acesa a chama de uma recandidatura assente nos mesmos pilares de independência partidária. Quando, finalmente, a anunciou, garantiu avançar sozinho e repetiu o discurso de rejeição. A verdade é que, com os desenvolvimentos do processo "Face Oculta" e a explosão do caso do alegado controlo dos media por parte do Governo, o silêncio tem sido a única voz de Manuel Alegre. O desejado apoio do PS assim o obriga. O recato vai dando frutos, como prova o convite (aceite) para a visita de Estado que o primeiro-ministro vai fazer a Moçambique.
Fernando Nobre, o outro candidato presidencial já em campanha, aposta na mesma estratégia. Assume-se como uma alternativa independente, mas o discurso desalinhado e contra as teias partidárias instaladas já não chega. Vai ser preciso mais para imitar Alegre. Bem mais do que a garantia de que quer "ir para Belém como um ser livre a 100%", do que a promessa de que referirá o caso de Olivença ao Rei de Espanha caso seja eleito ou do juramento de que avança em "nome da cidadania".
O discurso de ostracização dos partidos políticos é tão tentador que, embora de forma menos demagógica, também Cavaco Silva - neste momento, o mais que provável candidato da direita - já não lhe resistiu há quatro anos, apesar de ter certos os apoios de PSD e CDS.
É evidente que os partidos políticos, tal como existem hoje, estão datados. Condenados ao fracasso e à abstenção. É evidente que têm de se renovar e, façam-no ou não, que há margem para o aparecimento de projectos políticos independentes. Acontece que a democracia portuguesa tem as suas fundições em partidos e o mero discurso crítico do modelo instituído será pouco para o mudar. Pior: fingir independência e depois acabar nos braços dos partidos - como aconteceu com Cavaco e parece estar prestes a acontecer a Alegre (ainda é cedo para avaliar Nobre) - é matar à partida um caminho político alternativo que só pode trazer benefícios à nossa sociedade e no qual os portugueses já demonstraram estar disponíveis para apostar.
O tudo ou nada para oposição e José Sócrates no caso PT/TVI
O PSD hesitou muito mas lá avançou com uma comissão de inquérito ao caso do alegado controlo dos media. Pedro Aguiar-Branco alegou dúvidas levantadas na Comissão de Ética para justificar a decisão, mas o argumento é coxo, dada a pobreza factual das audições já realizadas. Além disso, quando o caso chegou ao Parlamento, já as suspeitas e a pressão sobre o primeiro- -ministro exigiam um total e inequívoco esclarecimento.
O atraso parece mais estratégico do que outra coisa. Levar as suspeitas que recaem sobre José Sócrates a uma comissão parlamentar de inquérito é levá-lo às últimas consequências. É colocar o País numa bifurcação sem retorno. Porque ou é provada a tese da acusação e o Presidente da República terá de dissolver o Parlamento (quando as conclusões da comissão forem apresentadas já o poderá fazer) ou nada se prova e a oposição - política e mediática - deve calar de vez as insinuações sobre o primeiro-ministro e o negócio PT/TVI.
É um caminho de tudo ou nada. Não podia ser de outra maneira.