A mais velha geração parte à conquista de Belém

Só Tomás no terceiro mandato era mais velho que Alegre. E Eanes saiu de Belém quando tinha menos cinco anos que F. Lopes
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O mais jovem Presidente da Re-pública da história de Portugal, António Ramalho Eanes foi eleito com apenas 41 anos e abandonou, após os seus dois mandatos, o Palácio de Belém aos 50 anos, uma idade muito inferior à de todos os actuais candidatos presidenciais.

Aliás, só Francisco Lopes (55 anos) e José Manuel Coelho (58 anos) são mais novos que o "velho" Pinheiro de Azevedo, que tinha, nas Presidenciais de 1976, a idade de Fernando Nobre (59 anos). Na primeira escolha de um Chefe do Estado após o 25 de Abril, aproveitando a disposição constitucional que permite a qualquer cidadão concorrer a partir dos 35 anos, Otelo Saraiva de Carvalho apresentava-se às urnas com apenas 39 anos e o histórico dirigente comunista Octávio Pato tinha então 51 anos.

Nada comparável com a actual gerontocracia que se apresenta na corrida para ocupar o principal cadeirão do Palácio de Belém. E, mesmo assim, a média de idades de 63,4 anos desceu em relação à das anteriores eleições - mas convém notar que Mário Soares, então já com 81 anos, fazia essa média subir para 63,7, isto é, acrescentava uns simples três meses à faixa etária geral.

Este ano, quando tanto se fala da juventude e dos seus méritos, sobretudo nas declarações e discursos dos seis políticos que têm a foto impressa nos boletins de voto do dia 23, Defensor Moura (65 anos) é mais velho que todos os anteriores Presidentes da III República quando foram eleitos: Mário Soares tinha 62 anos, Jorge Sampaio estava com 58 anos, Cavaco Silva festejara 64 anos.

E para se atingir a idade dos dois favoritos é preciso percorrer toda a centenária história da República. Presidente mais velho que o candidato Manuel Alegre (74 anos) só mesmo Américo Tomás no seu terceiro mandato, quando já tinha 77 anos - e, se não fosse o 25 de Abril, provavelmente manter-se-ia no cargo, para que fora eleito pela primeira vez aos 63 anos, até morrer. E com a mesma idade do poeta apenas existe o exemplo de Bernardino Machado na sua segunda passagem por Belém (no primeiro mandato, estava com 64 anos), de onde sairia à força pelo golpe de 28 de Maio de 1926, que instaurou a ditadura e abriu caminho ao salazarismo.

Mesmo Cavaco Silva (71 anos) só é superado por Teófilo Braga (72 anos), pois está com a mesma idade com que foi eleito Manuel de Arriaga em 1911 - isto é, há um século! Além destes, não houve Chefe do Estado na I República, na ditadura militar, no Estado Novo ou após o 25 de Abril com uma idade tão avançada como os actuais candidatos apoiados pelos dois maiores partidos políticos.

Recuando até aos primórdios de Portugal, verifica-se que ao longo das quatro dinastias também nenhum monarca se sentou no trono com tanta idade - o que, certamente, é explicável pelo aumento da longevidade. Aliás, em oito séculos, apenas seis cabeças coroadas eram mais velhas que Ramalho Eanes em 1976: o cardeal D. Henrique (66 anos), Filipe I (53 anos), D. António Prior do Cra- to (48 anos), D. João VI (48 anos), D. Maria I (42 anos) e D. Duarte (41 anos).

As idades avançadas de Manuel Alegre e de Cavaco Silva também podem ser comparadas com exemplos estrangeiros: na bicentenária experiência americana, o mais idoso dos eleitos foi Ronald Reagan, quando estava já com 69 anos (e seria reeleito aos 73 anos); no século XX francês, o mais velho Chefe do Estado foi Charles de Gaulle, escolhido com a mesma idade de Reagan (e também reeleito aos 74 anos).

A diferença é que os actuais presidentes americano e francês são muito mais novos, pois Barack Obama conquistou a Casa Branca com 47 anos e Nicolas Sarkozy entrou no Palácio do Eliseu aos 52 anos. Mesmo a Rainha de Inglaterra, que já soprou 84 velas no seu bolo de aniversário, foi entronizada quando tinha apenas 25 anos.

Numa época em que uma das propostas do BE para a revisão constitucional é a de se baixar a idade de voto dos 18 para os 16 anos, parece estranho que a elite política não se tenha renovado ao nível da escolha presidencial. Afinal, Alegre e Cavaco têm mais do dobro da idade necessária para qualquer cidadão poder ocupar o importante cargo de Presidente da República portuguesa.

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