A maçonaria exposta
Aquilo a que podíamos chamar "maçonleaks", isto é, a divulgação por um blogue de uma lista de "irmãos" maçons do Grande Oriente Lusitano (GOL), a maior obediência maçónica portuguesa, pode ter pelo menos o mérito de demonstrar, de uma vez por todas, que nas sociedades democráticas o secretismo não faz qualquer sentido.
As razões e motivações desta denúncia não serão, certamente, as melhores. Basta, aliás, percorrer o dito blogue para perceber que se trata de um espaço onde abundam as referências antissemitas e de extrema-direita.
Porém, como diz nesta edição do DN o politólogo José Adelino Maltez, assumido membro do GOL, "acabou-se a caça às bruxas e o jogo do gato e do rato na imprensa". Mesmo desatualizada, a lista agora divulgada deixa exposta uma grande maioria dos atuais membros do GOL. Deste modo, perde-se um dos princípios tradicionais da maçonaria, que é o anonimato dos seus membros.
Como é evidente, não é necessário andar com um letreiro a proclamar a obediência. Mas também não se percebe a razão, em pleno século XXI, de tanto segredo. Em sociedades livres, a transparência é um requisito fundamental. O segredo, por norma, só existe quando se tem alguma coisa para esconder. Num tempo em que, cada vez mais, as sociedades secretas vivem sob a suspeita de serem organizações que têm, entre outros objetivos, o tráfico de influências, é chegado o momento, se nada se tem a esconder, de acabar com o secretismo. Para os membros mais antigos até se pode compreender que seja difícil romper com esta espécie de contrato maçónico, mas para os aderentes mais recentes é chegada a hora de perceberem que só têm a perder com a manutenção desta cultura de segredo.
Contradições americanas
A convenção do Partido Republicano termina com a mensagem de unidade em torno do candidato nomeado, Mitt Romney, de 65 anos, mas as divisões do partido são evidentes e, acima de tudo, refletem em escala menor as profundas divisões na sociedade americana. A campanha está a encher-se de retórica populista, com os dois lados a procurarem caricaturar o adversário. Barack Obama tenta a reeleição e parte com vantagem. A convenção democrata da próxima semana esclarecerá quais serão os seus argumentos, mas o Presidente não pode falar em mudança, pois os últimos quatro anos foram sobretudo de inação.
Os republicanos têm um problema ainda mais grave: a radicalização de parte do partido. Para satisfazer este eleitorado ultraconservador, Romney escolheu como candidato a vice--presidente Paul Ryan, aliás imitando John McCain, que em 2008 foi buscar um membro do Tea Party, Sarah Palin, para concluir o ticket. Romney estará a correr mais riscos do que McCain, pois o congressista Ryan é um dos políticos republicanos mais ativos e as suas posições são bem conhecidas (Palin não tinha propriamente opiniões e não foram poucas as gafes). Apesar de tudo, em política, a gafe é melhor do que a contradição. A imprensa já está a fazer o exercício, perigoso para os republicanos, de encontrar diferenças entre Romney e Ryan em assuntos fundamentais. E não há apenas posições a mudar com o tempo, mas omissões e mentiras. Não podendo falar em mudança ou em manter o rumo, Obama terá de demonstrar que o adversário escolheu um vice-presidente com ideias que podem prejudicar o país.