A lucrativa indústria dos raptos

Sejam 'express' ou não, são uma fonte de lucro para os criminosos em muitos países. Estimativas já antigas e ultrapassadas dizem que esta verdadeira indústria rende mais de 500 milhões de dólares. Mas nem todos os raptos têm fins financeiros. Em países como o Iraque, quando a vítima é estrangeira, o objectivo é político
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A 18 de Junho, Mikhail Stavsky, de 17 anos, foi encontrado ileso em Moscovo, dois meses depois de ter sido sequestrado a caminho da universidade. As autoridades russas não revelaram se a libertação foi fruto da pressão policial sobre os raptores ou se o seu pai, vice-presidente de uma companhia petrolífera, pagou o resgate - que alegadamente era de 50 mil euros.

Um sequestro em milhares que acontecem todos os anos em todo o mundo, naquela que é uma indústria lucrativa. Segundo estimativas que já têm quase dez anos, os raptos rendem 500 milhões de dólares/ano aos criminosos. Um número que está claramente ultrapassado, se pensarmos que, por exemplo, os piratas somalis já receberam 3,5 milhões de dólares por devolver um navio e a sua tripulação. E quase todas as semanas, sequestram mais um.

O número de raptos que ocorrem em todo o mundo não é conhecido, mas estima-se que esteja a aumentar. Os peritos têm contudo uma certeza, apenas um em dez é denunciado às autoridades. Também não ajuda o facto de não haver estatísticas. O rapto de Stavsky, por exemplo, só foi divulgado a meio do mês, numa fuga de informação para a imprensa. O jovem já tinha sido raptado havia mais de mês e meio.

Segundo as estimativas dos peritos, o valor dos resgates pedidos pelos criminosos varia entre os cinco mil dólares e os cem milhões. As negociações fazem com que esses valores possam ser reduzidos. E é por isso que há agora um número cada vez maior de empresas que oferecem seguros anti-rapto, ou melhor, garantem um acompanhamento em caso de sequestro de um familiar ou funcionário da empresa (garantindo ser capazes de diminuir o risco de morte em cativeiro) e uma voz experiente nas negociações sobre o resgate.

Mas nem todos os raptos têm um objectivo puramente monetário. No Iraque, por exemplo, quando o que está em causa é o sequestro de estrangeiros, o objectivo é fazer exigências políticas - desde a libertação de outros terroristas à saída dos militares do terreno. Motivos políticos também motivaram as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que mantêm um grupo de chamados "reféns canjeables", que só aceitam trocar pelos seus guerrilheiros detidos pelo Governo. O rosto mais visível do grupo era a franco-colombiana Ingrid Betancourt, ex-candidata presidencial, que foi libertada há quase um ano numa operação militar arrojada, depois de seis anos de cativeiro na selva.

Contudo, a maioria dos sequestros são mais curtos, como os chamados sequestros-express. Demoram o tempo suficiente para levar a pessoa ao multibanco ou a contactar a família para que esta pague o montante pedido. Uma técnica muito usada na América Latina, onde o seu número tem vindo a aumentar. Nesta região "inventam-se as novas práticas de sequestro", dizia no ano passado uma organização não governamental holandesa, indicando que entre os dez países com mais raptos, cinco são latino-americanos. O número um dessa lista de 2008 era o México.

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